crônica do dia

Primeiro de março

01/03/04

Foi-se o carnaval, a chuva e fevereiro com seu dia bissexto e primo. Ficou o tempo maluco, aviso de febre no equilíbrio delicado da vida. Madrugadas de 14 graus em São Paulo e jabuticaba temporã. Ambos, em pleno carnaval. Amanhecer com nevoeiro cheio de orvalho a brilhar nas teias das grandes aranhas coloridas de teias amareladas, que já estão por toda parte. Quase sempre, só aparecem no final de maio, em junho... Depois, à tarde, calor é forte e o sol arde na pele!

O verde aproveita cada gota e explode em volume e pujança. Cavalos, cabritos e vacas estão bem alimentados e têm o pêlo brilhante. Formigas trabalham febrilmente a levar imensa quantidade de folhas para suas tocas. O capim alto espalha com generosidade sementes e rolinhas mal se importam com a presença humana, na volúpia da colheita. Trepadeiras e cipós, sorrateiramente, disputam todo suporte para ir mais e mais alto. Dependem de outros vegetais para as sustentar...

Mais extraordinário foi o entardecer do primeiro dia após tanta chuva: a atmosfera lavada e bem enxaguada, veio comprovar que olhar, além de deleite, exalta e justifica a vida. Não sei se o urubu, de seu ponto de vista privilegiado, pode desfrutar da visão como o homem. Quem sabe a águia, dada a fama de seus olhos. De todo modo, era possível enxergar longe, muito longe e perceber detalhes que a névoa cinzenta ofusca quase sempre. O calor do dia formara nuvens altas que recortavam a luz rasante do fim do dia, a pintar a ampla paisagem como ágil spot em mãos de artista. Ao se mover, ela destacava em brilho e nitidez o que, um momento antes, era apenas silhueta escura diluída no rasto de brumas que, apesar de tudo, se estendiam pelo horizonte.

Mais um pouco e Vênus apareceria do lado oposto, logo após o pôr-do-sol, como Estrela Vésper a estontear poetas...

 

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