Ignoro qual seja esta planta, com lindos pendões de flores cor-de-rosa a sobreviver por tantos anos em meu jardim. Até outro dia, tentava descobrir seu nome, achar-lhe uma identidade que, pronunciada, logo definisse para todos a planta em questão.

Hoje, ocorreu-me que tal ignorância dá mais beleza ao vegetal anônimo. O nome nunca é a coisa, seja este cacho de flores ou qualquer outra. Nos habituamos a lidar com rótulos, a palavra ligada a uma pessoa, um animal, uma planta ou outro objeto qualquer. Tais rótulos tornam mais difícil um contato direto, substituem o fato real, o experimentar o que é e, não, uma ideia, a idealização de alguém ou alguma coisa.

Durante muitos anos, imaginei serem estas 'flores-de-maio', provavelmente devido a alguma confusão ou desatenção minha. A planta definhou, abandonada em um canto e parou de florescer. Ano passado, recobrei o vaso, completei-o com boa terra e, agora, longe de maio, vieram quatro pendões, dois de cada vez, o maior com mais de 1,2 metro de comprimento que, depois, se desdobram em ramificações pendentes, quase como um candelabro.

Como disse, minha relação com a planta e suas flores mudou, hoje, depois de perceber inalterados seu porte, beleza, imponência etc., apesar de ignorar sua identidade botânica ou de jardinagem. A bela planta anônima continua bela mesmo sem nome.

Enquanto anoto estas divagações, os céus se congestionaram em um cinza médio, uma chuva fraca começou e roncos surdos de trovoadas distantes parecem zanga e ameaça. A cada chuvarada muitas pétalas das delicadas flores caem enfeitando o chão. Na imagem, o cacho já estão muito empobrecido, pois há meses perduram os pendões.

A chuva aperta e cai copiosa, agora. A cor do céu clareou, mas a luminosidade diminuiu. É mais uma tempestade de verão, de um verão de calor escasso.

Tue, Jan 17, 2012 at 4:04 PM

Oi Clode!
Quando der, mande fotos de detalhes da flor anônima.... quem sabe descobrimos....
Eu tenho um livrão "Plantas ornamentais no Brasil - arbustivas, herbáceas e trepadeiras", de Harri Lorenzi e Hermes Moreira de Souza, do Instituto Plantarum. Já identifiquei bastante "matinhos" lá, é bem bacana!
beijo
Aida

Tue, Jan 17, 2012 at 3:47 PM

Olá Clode

Esta sua crônica me lembrou um documentário que assisti outro dia, sobre um desenhista que se tornou - a contagosto dos eminentes cientistas da época - um botânico consagrado, já que saiu pelo Brasil a fora para catalogar, desenhar e nomear espécies de nossa flora.
Tanto foi importante o trabalho dele, que até hoje os etno-botânicos usam sua metodologia para observar plantas e montar seus doutorados.

Quanto à florzinha em questão, acho que não é importante saber o nome daquela que nasceu em seu jardim (não seria uma arvorezinha?) mas o cuidado que a fez renascer.

Que tal se você além de tirar fotografia, a nomeasse com um nome diferente tipo "ursula rosea", maningeia floralea", "bela-rosacea", trika-trika", "anonima kubruslya" ou "clodea kubrulya" (gostei destes últimos), nome que só para você tivesse significado? Pois essa flor tem a ver com sua terra, seu adubo, sua energia. Sem você ela não teria renascido. Sendo o seu jardineiro, batise-a, assim deixará de ser anônima. (Depois me avise)

PS: Caso você goste de um dos nomes que eu sugeri, posso ser a madrinha da florzinha anônima?

Beijos da Vera

Vera,

Obrigado pelas sugestões. São muito boas, mas gostei da flor sem nome e acho bom que continue anônima, embora a qualquer momento alguém possa me dizer: esta? ora, se trata da fulana de tal, da família das familiáceas, do gênero... etc. Também gostei de perceber que usamos amiúde os nomes para nos manter na esfera das ideias, em um mundo virtual, distantes do que é. Vamos deixá-la sem nome. Que seja o que é apenas, fora de catálogo.

Anyway, obrigado pelas sugestões.

Tue, Jan 17, 2012 at 6:01 PM

xiiiiii...

acho que alguns bichinhos comeram o começo da história da anônima flor.
por que será?
ou será que começa mesmo assim?

ps - e vem mais chuva por ai... muita.

      sem assinatura

Sim, a primeira frase alude à imagem.

Foi muita água mesmo!

Tue, Jan 17, 2012 at 6:48 PM

Lindos,sua flor anônima e seu sentimento!
Bjo.Brte

Merci.