autora: Mima 

A ver navios

10/09/18

No sábado ensolarado fiquei a ver navios. Não no sentido clássico da locução, de sofrer alguma decepção, não, no literal, maravilhado ante a vastidão do horizonte a provocar-nos a imaginação. Acompanhava o movimento de chegar e sair das embarcações na vastidão líquida a se quebrar a meus pés em espumas brancas que se desfaziam nas areias dragadas do fundo daquele mesmo mar. Deleitam-me ambos ir e vir sobre as águas salgadas do Atlântico.

Os navios, uns maiores, outros menores, ao se afastarem rumo ao encontro do céu com o mar, diminuem progressivamente, é óbvio, mas não desaparecem por se reduzirem a um pontinho imperceptível, não. Lá, bem longe e já pequeninos "afundam", nas águas profundas qual submarinos, a proclamar o formato esférico deste planeta deslumbrante. Demora para "submergirem" — uns mais, outros menos. São muitas as variáveis a determinar o tempo tão diferente de um para outro.

Lá longe, os navios parecem afundar... (Chipre vista da Estação Espacial Internacional)
Lá longe os navios parecem afundar... (Chipre vista da Estação Espacial Internacional)

Durante todo sábado, assim como na véspera, o vento soprou de sudeste, com intensidade entre forte e moderada. Muitas embarcações seguiam contra o vento, nos rumos do Cabo da Boa Esperança, no extremo africano, ponta decisiva para as grandes navegações do final do século XV, início do XVI. Nos mastros embandeirados a se sucederem pela praia, as bandeiras agitadas eram indicação inequívoca do sudeste obstinado. O céu límpido e muito azul riscava um horizonte nítido, com navios e ilhas repletos de detalhes.

Resta pouco inverno, treze dias, se contarmos hoje, e a primavera já se manifesta efusivamente. A proa de um cargueiro cruza uma haste vertical fincada na praia. Passam-se 55 segundos antes do extremo de sua popa atingir o marco. Na média, os grandes transatlânticos demoram, quando trafegam por perto, entre 45 e 60 segundos para percorrer seu comprimento.

Apraz-me ficar a ver navios...

Mon, 10 Sep 2018 13:22:14 -0300

Oi, Clôde


Adorei! E me lembrou um trecho de que gosto muito, de Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes
(você deve conhecer, é o autor de A Câmara Clara):

“Éramos amigos e nos tornamos estranhos. Mas é bom que assim seja, e não procuraremos dissimulá-lo ou ocultá-lo,
como se disso devêssemos nos envergonhar. Tal como dois navios que seguem cada qual seu caminho e seu fim próprios:
assim sem dúvida poderemos nos cruzar e celebrar festas entre nós como já fizemos - e então os bons navios descansavam
lado a lado no mesmo porto, sob o sol, tão calmos que se diria já terem alcançado seu fim e sempre terem tido o mesmo destino.
Mas logo depois o apelo irresistível de nossa missão nos arrastava novamente para longe um do outro,
cada qual por mares, por paragens, sob sóis diferentes - talvez para nunca mais nos vermos, talvez também para nos vermos
uma vez mais, mas sem nos reconhecermos: mares e sóis diferentes devem ter-nos mudado!”

Barcos são lindos (especialmente os veleiros!) e às vezes entristecedores: imigrantes acenando para parentes que ficam, ou
“a saudade dói como um barco,
que aos poucos descreve um arco
e evita atracar no cais...”.

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Mais adorei eu! Muito obrigado pelas lindas imagens em ti evocadas!

Conhecia, si, o "Fragmentos" e, é óbvio, comprei "A Camara Clara" logo que lançado, primeiro em francês e, depois, em sua versão, para a biblioteca da enfoco, mas não lembraria (e não lembrei!) o trecho tão bonito e poético.

Experimentei, quando adolescente, a grande emoção na partida de um navio, com acenos e lenços, por frequentar o cais do porto, vizinho do Colégio de São Bento, onde estudava. Não conhecia ninguém que partia com o som grave dos apitos do navio nem qualquer das pessoas a acenarem do cais e, mesmo assim, vieram-me lágrimas "inexplicáveis".

Adoro o trecho de música que você destacou. De novo, merci.


Mon, 10 Sep 2018 20:19:18 -0300

ADORO você contanto como fica a ver navios, lindo lindo lindo, me senti aí em Copacabana, pés na areia? você estava com os pés na areia à beira mar?
Linda foto, muito oportuna para a crônica, assim como a cor do título e da sua camisa na foto que eu tirei alguns anos atrás, aqui em casa, acho que num dia de Natal.ADORO você contanto como fica a ver navios, lindo lindo lindo, me senti aí em Copacabana, pés na areia? você estava com os pés na areia à beira mar?
Linda foto, muito oportuna para a crônica, assim como a cor do título e da sua camisa na foto que eu tirei alguns anos atrás, aqui em casa, acho que num dia de Natal.

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Obrigado.

Não, as espumas estavam um pouco distantes...

Adoro ver-nos do ponto de vista da Estação Espacial. Todos os dias olho um pouco e copio algumas imagens.

Gosto bastante de sua fotografia, isto é, de minha foto feita por você. Obrigado. Não lembro mais quando foi feita...


Mon, 10 Sep 2018 21:37:55 -0300

Que belas imagens de navios indo e vindo no horizonte. quando um escritor conta a gente vê. obrigada Clode.

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Obrigado eu, por sua atenção.

Quando um leitor é bom, vê até mais do que se escreveu.

Venha ver com seus olhos!


Mon, 10 Sep 2018 18:43:52 -0700 (PDT)

q bom q vc curte ver navios ...
qdo for aih, quero q vc me ensine um pouco sobre os ventos
sempre fiquei boquiaberta qdo uma pessoa dizia
"eh o sudoeste" ou o "sudeste" ou o fosse

bjs

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Por que é bom que goste de ver navios?

Você não aprendeu com a "Rosa do Ventos!, no primário?

As bandeiras e os coqueiros, aqui, mostram o tempo todo a direção do vento...

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