Há muito tempo - ou deveria logo começar pelo reconfortante "era uma vez..."? - uma faxineira, ao perceber meu grau de angústia, preocupação, tristeza ou, como diria minha mãe, aborrecimento, comentou: "a vida é bela, nós é que empeteca ela", assim, com a concordância oblíqua, mas o significado inequívoco como seta erótica (seria possível este uso do adjetivo a designar o arqueiro?)
Quer sejamos nós ou quem quer que seja a empetecá-la, a vida é bela. Isto salta aos olhos de quem a olha sem muita filosofia. Há uns vinte anos ouvi esta verdade e nunca mais esqueci toda a cena e como desmontei diante dela, da verdade simples. Ouvi do cronista esportivo Armando Nogueira outra história deliciosa que confirma a transparência da verdade aos olhos dos inocentes.
Contou ele que Hélio Pellegrino, psiquiatra, historiador, humanista etc., propôs a seus pacientes em manicômio, no Rio, um concurso: a proposta era, mais ou menos, quem faria a melhor frase para definir a vida. A vencedora: "A vida não é senão aquela cuja nós vivemos a qual". Eu não me atreveria a imaginar o que pensou com seus botões o autor da frase... ou sua roupa nem mesmo tem botões?
Aqui, 23º34'21" de latitude um nadinha ao sul do trópico de Capricórnio, 46º51'10" de longitude oeste, contrariando previsões e muito saber e alta tecnologia e cálculos complicadíssimos e belíssimas imagens da Terra agasalhada em nuvens, o sol despontou às seis horas e 17 minutos, horário de verão e mesmo antes o dia se fez límpido, transparente e ensolarado no anúncio de um sabiá solitário, de canto forte, a que logo se seguiram muitos piares diferentes a confirmar a alegria do calor que logo se derramaria.
solstício de verão de 2005-2006
Depois ventou forte de noroeste. Ao meio dia, horário de verão, o silêncio calou quase toda passarada. O vento persistia, em rajadas esporádicas. A vida é...
o solstício é amanhã, às 18 horas e 35 minutos GMT, ou 16:35, pelo horário brasileiro de verão
