desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

A bola da vez

12/01/12

Por causa de tanto ouvir 'por conta disto', 'por conta daquilo' ocorreu-me terem sido abolidas da Língua outras expressões equivalentes, como 'por causa de', 'devido a', 'em razão de', 'em função de', 'por motivo de', 'como consequência de' e assim por diante.

Depois, constatei ser apenas costume de nosso tempo, um modismo que passará - nossos netos dirão as mesmas coisas com outras palavras. Estamos viciados em 'por conta de' devido a tanto se repetir esta locução.

O falar também se vicia. Um amigo de muito tempo atrás dizia que falamos, mas somos falados repetindo lugares comuns como 'a bola da vez', para indicar um assunto em pauta ou um tema atual ou 'alavancar', em vez de estimular, induzir, impulsionar, fomentar. Se prestarmos atenção, ele tem razão: com frequência 'ligamos o piloto automático' e emendamos pedaços de frases sem muita consciência do que dizemos.

Muito já se falou do famigerado 'como um todo', usado para se referir a algo, em si, completo e uno; do 'correr atrás do prejuízo' para mencionar uma tentativa de remediar; do 'empurrar com a barriga' ao fazer menção a uma protelação. Como se vê, é fácil sucumbir a frases feitas e ditos muito repetidos.

Hoje em dia em vez de dar uma opinião se 'faz uma colocação'; em lugar de cumprir com uma obrigação, se 'faz o dever de casa'; quando a situação está difícil, se 'vai mal das pernas' e, em vez de esperar, ficamos 'no aguardo'.

Se as coisas vão desse jeito - 'pelo andar da carruagem' -, será preciso 'redobrar' o cuidado, sempre o dobro do dobro, este quádruplo inexorável!

Enfim, 'vale lembrar' e 'objetivando' encerrar esta conversa mole, cumpre 'disponibilizar' um ponto final para 'impactar' o desenlace, 'doa a quem doer, custe o que custar', pois existe alguém 'no aguardo', 'na ponta da linha'.

Thu, Jan 12, 2012 at 12:32 PM

Clode
Me irrito mais com a mania do gerundio: "Vamos estar retornando" , que acredito serem versões literais de manuais de equipamentos (em ingles) e usados pelo telemarketing, ou ainda os "faz parte!" imitados dos big brother na televisão, de baixa categoria.
"Deus me livre e guarde" dessa coisas, para usar tb uma expressão que saiu do repertório e que a tia arabe do Rubens confundia com "Dois me livre" , e por isso quando a " coisa estava preta " -expressão tb politicamente incorreta- falava "Três me livre", aumentando o horror pela situação rs rs rs
bj

      sem assinatura

Sim, também me incomoda o uso indiscriminado do gerúndio nessas construções derivadas do inglês. Uma vez a caixa da farmácia falou-me: o senhor gostaria de estar participando e continuou com um discurso quase ininteligível para mim... fiquei olhando perplexo e nada respondi. Foi há muitos anos, quando se inaugurava por aqui esse jeito de falar. A Língua, porém, é feita pela voz do povo, por mais feio que seja seu falar. Reli há pouco tempo a Carta de Pero Vaz Caminha, testemunho vivo de como muda o Português.

cronistaprendiz


Thu, Jan 12, 2012 at 10:42 AM

Gostei!

Bjs da Vera


Thu, Jan 12, 2012 at 11:10 AM

Ótimas observações, ou "na mosca"! A proposito, traduzi ontem esse texto muito interessante:

"Os idiomas parecem pertencer a três tipos de comunicação. Eles falam sobre a realidade, mas não a entendem da mesma maneira: Alguns (russo, chinês e hindi), falam sobre a situação comum para o falante e o ouvinte, outros (georgiano, turco e búlgaro ), sobre a experiência do falante dessa situação e outros ainda (dinamarquês, sueco e Inglês), também envolvem a experiência do ouvinte nelas.
A escolha entre uma terceira pessoa, uma primeira pessoa ou a perspectiva de uma segunda pessoa é uma escolha semiótica, mas parece que o mesmo tipo de escolha é feita em outras áreas relativas à percepção e a cognição. Se alguém recolhe as três descrições linguísticas do "nosso mundo", tem-se acesso ao modo como nossa mente é organizada e como ela funciona: as pessoas parecem ter dois tipos diferentes de visão, e os estímulos visuais são processados em três estágios correspondentes a entrada (experiência), a ingestão (entendimento) e ao resultado (uma combinação do que foi vivido e que foi entendido)." Primeiro parágrafo do paper "What Languages Tell Us About the Structure of the Human Mind" de Per Durst-Andersen

Abração

Ebert

Não sei como nossa mente é organizada ou como ela funciona. Acho o cérebro um grande mistério e, no que diz respeito a línguas, sou ignorante demais para opinar. Surpreende-me a analogia entre o modo de processar imagens e a linguagem oral, mas não vou além desta surpresa.

cronistaprendiz


Thu, Jan 12, 2012 at 4:26 PM

SENSACIONAL!

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Eu tinha certeza que você gostaria...


Thu, Jan 12, 2012 at 5:40 PM

O que mais detesto é customizar no lugar de personalizar! bj.

      sem assinatura

O vocabulário da Academia ignora a palavra. O Houaiss a registra assim: "palavra a evitar, por personalizar". É um horror, mas é usada e abusada na internet.


Fri, Jan 13, 2012 at 7:34 PM

acho que o grande estoke q aparece agora vem na net e todo o vocabulário
o mundo digital deu um sacode geral, inclusive no jeito de falar, numa enxurrada d palavras novas.
a língua se renova, amplia, inagura... o q é bem bom.
serve até como aeróbica pros neurônios nossos fatigados de cada dia,

valeu?

      sem assinatura

Valeu.
Não é só a língua, tudo muda o tempo todo - ainda bem!
E, sim, a interconexão geral transformou tudo, 'bouleversou' nossas vidas e nossas cabeças.


Sun, Apr 8, 2012 at 9:36 PM

extraordinarily well written
palmas pra ele q ele merece!
incrível jogo de palavras!!!
viva o Clode, viva viva

ah, essa mania que temos de reclamar! poderia ter sido um puxão de orelha em vez de vivas.

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