autora: Mima 

Adolescência

03/08/15

As aulas terminavam por volta das onze horas, ou melhor, 23 horas. Os lotações vinham da Central do Brasil pela Marechal Floriano, onde estava o Colégio e entravam na Avenida Passos, para atravessar a Presidente Vargas e seguir até a Praça Tiradentes, rumo à zona sul, pela Glória, Flamengo, Botafogo, etc. Como se vê, um itinerário cheio de História e times de futebol.

Terminava, então, a década de cinquenta com muitos prenúncios das transformações por vir, medidas, para um adolescente, principalmente pelo comprimento das saias, na época, em franca ascenção. Era véspera dos Beatles, dos beatniks, do não à guerra, do "paz e amor". O porvir parecia sorrir e uma sociedade melhor, possível, mas uma moça podia, naquele Rio de Janeiro, sair àquela hora do Colégio Pedro II, ali, nas imediações da zona do meretrício e pegar um lotação de volta para casa, sem susto, sem temor.

A moça em questão era filha de um professor do famoso colégio e, dia após outro, pegava sua condução ali, defronte ao colégio, enquanto alguns dos alunos mais velhos, comuns nos cursos noturnos, entre os quais se incluíam chefes de família, iam à pé até os prostíbulos do Mangue em busca de alguma aventura sexual paga.

Uma bela noite, ao tomar o lotação, a moça notou seu colega entre os poucos passageiros daquele horário. Com naturalidade, se sentou a seu lado e com a mesma espontaneidade o cumprimentou e perguntou alguma coisa, um questionamento qualquer trivial, apropriado a encetar conversação.

Pão de Açúcar visto da Av. Ruy Barbosa
Pão de Açúcar visto da Av. Ruy Barbosa

Todavia é impossível saber o estado do cérebro vizinho, aquele encerrado no crânio da pessoa a seu lado e tanto bastou para explodir as comportas e o verbo inundar os vales em procelosa enxurrada. Sem controle nem empatia o jovem falou e falou e falou, falou até chegarem ao final do Flamengo, onde ela desceu e ele calou.

Há quatro anos morria Fladu.

Mon, 3 Aug 2015 07:53:31 -0300

Screen Shot da mensagem

Nossa, que surpresa gostosa!
Obrigado.


Mon, 3 Aug 2015 09:52:52 -0300

Lindo mesmo, Renato tem razão.
Essa moça é a Fani e o moço, você?
Ou continua enveredando pela ficção?

      sem assinatura

Fani, não, Vani, Evangelina para ultrapassar o apelido.
Não sou capaz de ficção...
Obrigado.
   (Viste o elogio do Renato?)

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