À guisa de despedida

19/12/97


Hoje poderia apagar toda a memória
de tanta besteira que enche esse disco
maldito, bendito também, com nome de arma,
que guarda letrinhas como estas aqui.
Palavras que lembram coisas passadas
e águas passadas não movem moinhos,
principalmente, depois que turbinas gigantes
moem eletricidade nos fios de cobre
como as nuvens, a eletricidade do ar.

Para que quero palavras
que apenas evocam idéias
do que não se viveu?
Que a enxurrada leve todas as marcas,
Apenas marcas, meras palavras.
Nada mais!
Turbilhão de águas irrepresáveis
que me escorrem do peito, giram a cabeça,
e geram a tensão desses músculos doídos.

Hoje, seria fácil destruir as palavras
Guardadas na porra da memória magnética
Desse disco rígido, rígido demais
da máquina que tem memória,
Mas é incapaz de ter coração

8 February, 1993 - 12:57 AM

 

Só,
Sem a ilusão que esconde a solidão

Só,
com os monstros que habitam os pensamentos

Só,
A mercê da mulher que pressinto em mim,
que me deixa com falta de ar
que me deixa no limiar de chorar
que deixa em mim um suspiro retido
um aperto no peito
o abdome esquisito
a cabeça cansada
as pernas já bambas
e muito, muito mais,

não é só.

                       10/02/93

 

aquarela do autor

 

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