auto-retrato [] Crônica do dia

Alto verão

23/01/09

Caberia um agasalho de lã, mas seria inútil, pois logo se encharcaria do ar saturado de tanta umidade vinda do mar. Os ventos são constantes e cortantes. Uma amiga, pelo telefone, se esforça para não sucumbir - não vou me deixar abater - diz e explica que, antes, um tempo assim a faria infeliz - eu ficava deprimida - conclui.

Outro dia a mínima foi de 15 graus! Agora, durante o que se convencionou chamar de alto verão. Alto verão, baixas temperaturas - pode parecer mas não é aula de física e, sim, mera constatação. O mês de janeiro, consagrado a Jano, deus dos começos, costuma ser quente e ensolarado neste trópico de Capricórnio. Este, todavia, achou graça em imitar o inverno e fez do verão um inferno.

Por um momento, o rolar matinal de nuvens trazidas do mar, se esgarçou em ameaças de azul e, na vegetação gotejada, viram-se sombras a vacilar conforme o teor de um céu nublado. Levantar os olhos confirma um véu sem sol, variação da intensidade de um branco ofuscante e indefinido.

Em resumo, faz frio em janeiro e não estamos no hemisfério norte! O mês se esvai e alguns diriam benéfico aos furores carnavalescos um friozinho. Pode até ser, mas o sal da folia parece ser mesmo o suor. Em breve, o outono adubará o chão com folhas de muitas árvores e, inevitável como a morte, o inverno chegará...

Se a estação que agora fustiga o hemisfério norte servir de amostra do frio prestes a nos açoitar, melhor seria começarmos a falar de uma nova era glacial em vez de malhar frio o pretenso aquecimento global.

A alma se aquece a simples vista do brilho solar, por um breve momento, sobre uma vegetação agitada por ventos hostis. A sexta-feira desmente a estação. Passa uma borboleta amarela e preta. Desaparece na vegetação. Flores sorriem, apesar do clima. Uma pequena mariposa luta contra o vidro da janela.

 

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