foto de 5 de dezembro de 2015

Arquivista

07/12/15

Lembranças vindas à tona por obra do acaso volta e meia me aguçam o instinto de arquivista, de colecionador. Cogito: talvez ninguém mais saiba disso e vem o impulso de registrar (tal ímpeto sempre me evoca infindáveis gaveteiros cheios de insetos mortos, organizados, etiquetados e enfileirados sobre chumaços de algodão, ao longo de estreitos corredores em algum museu de entomologia).

Logo depois, vejo a lembrança de outro ponto de vista e a nova perspectiva escancara a banalidade, a insignificância, para não dizer a vulgaridade, do que ainda há pouco parecia digno de "registro para a posteridade". A nova visão traz, de quebra, a percepção do quanto somos ególatras, o quanto desaparecemos como entes humanos eclipsados pelo indivíduo e suas idiossincrasias.

Certamente algum leitor ver-se-á com a curiosidade aguçada a se perguntar qual seria, desta vez, a lembrança cutucada pelo acaso a desencadear todo este blá-blá-blá. Saciemos, pois, o hipotético leitor: foi uma matéria da Folha de São Paulo, do dia 27: "'Limite' lidera os cem melhores filmes brasileiros".

O filme de Mário Peixoto marcou-me a adolescência, apesar de nunca o ter assistido. Foi assim: sonhava em fazer cinema com todas as fantasias típicas da idade e, não sei mais como, consegui uma recomendação do senhor Saulo e, dela, um emprego em pequeno laboratório cinematográfico, a poucas quadras de casa (apenas coincidência).

Na Movedol, produtora de comerciais para a incipiente TV, o Saulo lutava para recuperar o Limite, já então famoso. Processava ali, cópias, contratipos, e correções nos originais muito danificados pelo tempo e abandono. Como laboratorista, processei muitos trechos do Limite, em 16mm, mas saí antes da conclusão dos trabalhos "para estudar química", por determinação paterna, pois corria o risco de reprovação...

Em caso de dificuldade para abrir o link da Folha de São Paulo, desative o JavaScript e tente novamente.

Mon, 7 Dec 2015 11:19:23 -0200

somos muito efêmeros.
suas crônicas, porém, não o são, ficarão, pra quem quiser ler e reler, quem sabe até os netos do Miguel e os filhos do Pedro Akira...
Gostei da lembrança que você contou, portanto, da qual não tinha A MENOR IDEIA, ou, como aprendi na Espanha, npi (ni puta idea).
Então, que bom que vc a registrou, mesmo sem arquivos de insetos. Não tentei abrir nenhum link... Minha lembrança de Limite, que assisti muito jovem (em cópia parcialmente restaurada por você, ora vejam só!) é de que não gostei nem entendi porque é tão reverenciado, ra ra ra ra ra. Muito jovem. Mas não sei se hoje entenderia o porquê sem uma explicação teórica.
Pra não deixar de ser a chata, sugiro que tire a vírgula depois de "Saulo", sujeito da oração:

o Saulo, lutava

      sem assinatura

Curioso você ter assistido a este filme... apesar de o ter me mãos muitas vezes, sempre pequenos trechos, nunca o assisti embora por toda vida tenha ouvido falar dele como uma espécie de Santo Graal...
Quanto aos links, os donos dos jornais online, embutem em suas páginas comandos na forma de scripts para impedir o acesso e tentar cobrar por ele. (Hoje mesmo o Ebert pediu-me cópia da crônica do Veríssimo pois "não era assinante" e a não conseguia abrir - tampouco sou assinante e sempre abro o cronista!) Para contornar o incômodo, basta desativar o javascript e recarregar a página (ou o link) e o comando impeditivo estará desligado.
Obrigado pelo copidesque. Era outra a frase e, na mudança, a vírgula sobrou.


Tue, 8 Dec 2015 18:29:06 -0200

Meu caro arquivista...

Uma delícia esses seus reencontros,
do limite aos contratipos....

Isso pra não falar do... "cer-se-á"
De qualquer jeito, continuo
fiel escudeiro, acompanhando
os seus lances neste tecladinho...

boa noite por ai, Mermão

      sem assinatura

Algo conta a mesóclise?
Eu gosto, sem abusar.
Obrigado, fiel escudeiro.

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