(de esporadicidade imprevisível)

Bem-te-vis e sabiás

18/09/17

Aqui a primavera iminente se anuncia na profusão de bem-te-vis, todos a tentarem impor sua voz. A quatro dias do equinócio, do outono e da primavera, temos tido dias quentes e, agora, esta disputa dos bem-te-vis, mas sinto falta da melodia dos sabiás. No antigo endereço, quatro espécies de sabiás enchiam os ares. Cantoria celebrada pelo poeta maranhense a reclamar a ausência deles nas bandas do Velho Mundo.

Saudade não sei traduzir e não vou confessar, mas os bem-te-vis, ou ao menos um casal deles, encontraram uma solução engenhosa para enfrentar os dias muito frios do inverno paulista: construíram seu ninho no espaço entre um transformador da rede elétrica e seus tubos de refrigeração, a correrem paralelos e por fora, justamente para dissiparem o calor produzido na redução da voltagem.

transformador do tipo mencionado no texto
tranformador do tipo mencionado no texto

Não sabiam, é óbvio, destas coisas, mas devem ter percebido um calorzinho benfazejo e convidativo e, ano após ano, construíam ali um novo ninho sobre o anterior, feito de longos fios de capim, que logo se amarelavam, dando à obra uma aparência de palha seca. Os andares se empilhavam e os ninhos mais antigos, mais achatados pelo peso dos novos, mostravam sinais de palha queimada onde encostavam nos tubos de refrigeração.

Certa vez caiu um filhote do ninho, ainda sem saber voar. Consegui pegar o bichinho e o levei para o Milton da portaria, apaixonado por animais e salvador do Fladu, quando atacado por uma jararaca, e também criador de alguns pássaros em gaiolas. Ele o acomodou em uma gaiola, preparou papa de fubá para a alimentação, mas o bichinho durou poucos dias...

Enquanto isso, naquelas paragens, os sabiás, muitos, enchiam as manhãs e as tardes com melodias maravilhosas possíveis somente aos sabiás. Apesar de serem sobras da mesma Mata Atlântica, as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.

Mon, 18 Sep 2017 10:23:02 -0300

fico sempre encantada (palavra boa pra cronica de hoje) com seu poder de ver e escutar o pequeno mundo no mundo.

muitos beijos e boa semana

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Boa semana para você também!

É uma delícia prestar atenção ao que acontece ao redor...
Experimente, você vai gostar.


Mon, 18 Sep 2017 14:27:12 -0300

Lá em casa eles gorjeiam todos os dias, começa 4 da manhã...

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Acho que lá na Granja começavam um pouco depois...


Mon, 18 Sep 2017 16:54:02 -0700 (PDT)

as aves q aki gorjeiam, gritam, fazem barulho, nao gorjeiam como aih!

sim, sinto falta do canto dos passaros

so as andorinhas, no verao, cantam um pouco, nao fazem alarido e gritaria

adorei a cronoquim

filhote de passarinho nao sobrevive, jah tivemos muitos caidos dos ninhos, qdo conseguimos colocamos de volta no nhinho, melhor chance, mas mesmo assim ...

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Ah, aquele fim de mundo lá da Granja tinha sua graça e sua bicharada, muito aumentada quando Alphaville desmatou uma grande área para lotear...
Apareceram até tucanos! Mas quando mudei encantava-ma em particular o canto noturno dos curiangos - inesquecível. A passarada ia dos jacus a quatro espécies de beija-flores, incluindo pica-paus, joão-de-barro, sanhaços, cambaxirras, pombos etc.
As grandes cidades talvez sejam a única solução, mas são muito feias e estéreis.


Mon, 18 Sep 2017 23:31:58 -0300

Lindo, Clode! Os sabiás aqui continuam a cantoria escancarada e tem gente que reclama de ser acordado por eles. Eu, hein…..
Como é que você sabe essas coisas, tubo de refrigeração de o que?!?!?!?!
E espécies diferentes de sabiá?!
Só conheço os sabieas lisos (a maioria) e um tal de sabiá arrepiado, nome de uma historinha que escrevi. Porque o bicho tinha as penas arrepiadas mesmo.

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Cada pessoa se interessa por determinados assuntos. Não é mais possível o "sábio" de antigamente, como Da Vinci, que sabia praticamente tudo de tudo. Não sei como cozinhar uma beterraba, por exemplo, ou como fazer renda de qualquer tipo. Conheço, todavia, o funcionamento básico de um transformador, usado ali para reduzir a tensão da voltagem (é mais barato transmitir energia elétrica em altas voltagens) ou no carregador de baterias, com a mesma finalidade, em outra escala.

Sim, descobri, observando e conversando com o Milton, existirem por lá quatro sabiás diferentes, com cantos também diferentes, sendo um, que ele chamava de bico-de-osso, o segundo mais comum, sem o peito alaranjado, mais acinzentado e com o bico amarelo claro. A Wikipedia lista muitas espécies.

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