desenho de Mima

Borrador

09/12/17

Em tempos de tantos recursos eletrônicos a postos para nos solucionar as necessidades outrora dependentes da pena, da tinta e do papel, sinto falta ocasionalmente do velho borrador, de ordinário colocado sobre o tampo da escrivaninha, muitas vezes guarnecido de couro ou imitação, mas no fundo apenas um bloco de papel branco, picotado no alto, para facilitar a substituição das folhas, em geral, no formato A3.

Ali se rabiscava ao léu, anotava-se o número de importância momentânea, traçavam-se hachuras ou gregas automaticamente enquanto a atenção se concentrava alhures, anotavam-se inspirações súbitas e até quadrinhas ou rimas insólitas entre desenhos ou esboços, esquemas, endereços e telefones importantes por qualquer razão. Quando a bagunça saturava o papel, bastava arrancar a folha e começar do zero com a próxima e imaculada.

Os telefones celulares, os tabletes e mesmo os computadores de mesa, por mais que tentem nos oferecer um desktop e uma infinidade de aplicativos para anotar, rabiscar, agendar, classificar, recortar etc., ficam muito longe do descompromisso e do imediatismo do velho borrador, com a provocação explícita da folha branca e do lápis ou caneta ao alcance da mão.

São os tempos a nos impor as circunstâncias e seguimos adiante nos acomodando às novas condições. Do graveto afiado para riscar no barro úmido os sinais precursores do alfabeto, passamos pelo lápis, pelas penas de aves, penas metálicas, esferográficas até os programas de reconhecimento de caracteres em uma imagem e de voz, para permitir à máquina anotar por nós.

Além do borrador sobre a escrivaninha, era comum se deixar uma caderneta ou bloco junto ao telefone, então irremediavelmente preso a um fio, por mais longo que fosse. Que rico material para a psicologia da humanidade se perdeu em tais rabiscos!

Sun, 10 Dec 2017 12:22:43 -0200

Puxa Clode voltei no tempo agora, lembrei do escritório do meu pai que sempre teve esse borrador, no dele o bloco ficava preso numa capa de couro azul por baixo e nas pontas dos cantos do papel. Tinha também essas cadeiras de madeira que estão aqui na minha sala agora.

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Que legal! No escritório de meu pai também tinha um desses, como você descreveu, só que ele quase nunca usava esse escritório, dava aulas em outra escrivaninha, menor, em outro quarto transformado em "sala". Era muito mais fácil rabiscar ali do que nos computadores de hoje. Por fim, a cadeira que uso agora foi do "Curso Kubrusly", de minha infância e, depois, da enfoco. São marcas que a vida vai deixando em nossas memórias...


Mon, 11 Dec 2017 11:05:58 -0500 (EST)

Querido Clode,

Só pra dizer que você tem uma anacrônica prima que tem um telefone "irremediavelmente preso a um fio", bloco de papel e lápis ou caneta ao lado. A ideia do borrador parece ótima, nem conhecia.
Outro dia lia duas agendas de papel que guardei, uma de 1988 (ano do nascimento da Julia) outra de 1991 (nascimento do Alexandre). Incrível o que eu andava fazendo nessa época. Mal me reconheci.

Beijos
Lucia

Prima predileta,

Saiba que muito admiro o seu anacronismo e, eu também, por muito tempo resisti ao telefone de bolso, ou de bolsa, e ainda me incomoda ligar para o bolso ou a bolsa de quem quer que seja. Quanto ao borrador, você não conhecia o nome, certo? Na mesa ou escrivaninha de papai existiu um que sempre me atraía. Depois aprendi o nome e gostei dele. Quanto a cadernos ou agendas cheias de passado, com minha vinda para o Rio, foram jogados no lixo um bom número deles. A gente muda mesmo, muitas vezes não me reconheço ao reler velhas crônicas - são vinte anos já!


Sun, 31 Dec 2017 10:34:52 -0200

Como quase sempre, lá vem você cpm uma viagem ao passado ou quase isso. Que tal falar sobre o presente, o agora, o já? Que tal? Vamos tentar, quem sabe?

bom feriado, virada de tudo, ou algo assim? Te atrai?

Viva a festona aí!

beijinho...

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Você gostaria de estar aqui, no meio do povo, falando ao léu com um e com outro, né?
Perdão por escrever sobre recordações. Tentarei seguir sua sugestão.
Pena você não estar aqui para a festona...

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