Como brioches

17/09/97

Veio a pergunta: "você ganha algo com isso?" Isso, era isto aqui mesmo, a crônica do dia, como brioches e geléia de jabuticabas para o café da manhã. São inofensivas, embora possam causar dependência, como o pão nosso de cada dia. O padeiro ganha. As moças que fazem a geléia, também. As crônicas são totalmente grátis e, dos efeitos colaterais conhecidos, pouco conhecidos, diga-se de passagem, parece que soltam um pouco os intestinos e, por isso, às vezes, são recomendas para se ler no banheiro.

De qualquer modo, vou tentar responder: se a pergunta implica cacau, arame, erva, mufunfa, gaita, tutu, grana, dinheiro, a resposta é não. Fora isso, ganho muitíssimo com a crônica nossa de cada dia. Tanto, que nem posso avaliar.

Vamos imaginar que um belo dia abro um periódico - jornal, revista, álbum de figurinhas, órgão oficial do sindicato dos fornecedores de chapinha de cocacola, ou algo assim - e esbarro lá, no cíclico órgão, com um texto conhecido, meu e de vocês. De nós quatro ou cinco, que aprendemos os atalhos para este reduto escondido. E daí? Daí, nada. Aliás, surpreendente seria isso jamais acontecer. Aí, sim, teríamos um atestado final e cabal da falta de qualquer qualidade nos ditos que aqui se dizem. Além do mais, que eu saiba, por enquanto esse atestado existe e, como se completa hoje o primeiro mês desse nosso vício, já dá pra desconfiar...

O grande barato da Internet é esse. É um tipo de velho oeste, uma terra de ninguém. Isso me fascina. Quando estiver tudo "nos conformes", certamente não estou mais por aqui. Hoje, devem existir milhares, milhões de advogados, querendo encontrar uma solução, e fazer da grande malha, uma maquininha que funcione tão lubrificada quanto os absurdos da Justiça naquele "famoso país". Lá, qualquer um processa qualquer outro, por qualquer coisa. O sujeito cisma que você não olhou para ele, quando se cruzaram numa avenida da maçãzona, por exemplo. O advogado prova que além de politicamente incorreto, sua atitude denota um caso típico de discriminação da pessoa, do indivíduo, do cidadão, do munícipe e, sobretudo, de um filho da pátria, - não, dona Sabrina, filho da pátria! - estendendo-se, pois, a ofensa, às listras e estrelas e até, quiçá, ao próprio Presidente da República. Um gesto, definitivamente, antidemocrático. Com certeza não dá cadeia nem cadeira elétrica, mas o desgraçado vai ter que pagar uma grana, que o advogado, seu cliente e sabe Deus quem mais, irão repartir.

Suponha que não é nada disso, que tudo não passa das fantasias de um alucinado. E o guri que foi expulso do jardim de infância por causa de assédio sexual à coleguinha? Lembra, um tarado de seis anos, beijando criancinhas... E aquela universidade que criou um código para ajudar a estabelecer as fronteiras do assédio sexual? Foi, com certeza, das melhores peças cômicas que li. Já pensou? É preciso o consentimento da parceira. (O grande problema, sem dúvida é convocar as testemunhas...) No tal código há pérolas assim: duas horas da madrugada, os dois - imagina-se um casal de estudantes universitários - dizia: os dois entram no quarto, depois de uma dúzia de cervejas... Até aí tudo bem, cenário e personagens corriqueiros, é depois que vem a maravilha: o rapaz não pode abrir o botão da blusa da moça. Antes, deve pedir e obter seu consentimento. Está escrito. Meninas, eu li! Há 30, 40 anos, não pedíamos nem tampouco abríamos o botão da blusa da moça. Ela, provavelmente já estaria sem blusa ou nós interessados em outras peças do vestuário... E a Desirée? Lembra? Lembra da Desirée?

Do que era mesmo que falávamos? Ah, sim, desse encantador faroeste do Planeta em que se transformou a Internet. Ninguém enche o saco pedindo cic e passaporte. Se pedir, o cara mostra um salvo conduto boliviano ou um título de eleitor assinado pela Rainha daquela república africana cujo nome não me recordo mais. Com que cara ficaria the attorney? Aqui, cada um faz o que quer, mata a cobra e mostra o pau, quem pode mais chora menos e o bom cabrito não berra. É o embrião de uma nova Califórnia, de uma nova Hollywood mas, por enquanto, as comboios passam e os sinais de fumaça se perdem nas nuvens. A tempestade virá. Tudo isso vai acabar, é óbvio. Fizemos com o mundo, por que não haveríamos de fazer aqui? Mas, enquanto isso, vamos passear no bosque, enquanto seu lobo não vem...



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