desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Bug na banana

03/02/09

Não, dona Sabrina, nem sempre o título conta a verdadeira história. Ocorre que há muito me pergunto se natureza não enfraquece a visão dos velhos para os proteger de um inesperado espelho. Algumas ruínas são belas, é verdade, mas a maioria é lamentável. Assim, ao poupar detalhes inevitáveis a uma visão vinte por vinte, se tornaria a própria imagem mais tolerável.

Outro dia, a falta dos imprescindíveis óculos para uma vista cansada trouxe grata experiência. O que é isto? - me perguntei com o olhar fixo no fulgor metálico esverdeado da gotícula a luzir como verdadeira jóia incrustada na pele amarelo pálido da casca da banana-prata. Os óculos pouco ajudaram, mas ao observar o adorno sob o aumento de vinte vezes de um conta-fios, descobri, fascinado, tratar-se de um inseto, com pouco mais de um milímetro de comprimento e a forma geral dos besouros.

O fantástico daquele espécime era a transparência de sua carapaça a lhe emprestar o aspecto de estar o verdadeiro inseto submerso numa gota d'água. Sob tal escudo transparente, os élitros - estojos formados pela modificação das asas anteriores dos besouros, de onde, aliás, deriva o nome coleóptero (coleo- antepositivo, do grego koleós,oû 'estojo, bainha') - parecia ter outros élitros, menores, verde-claro metálico, com cinco pontos negros.

De início, imaginei ter o fruto secretado algum fluido capaz de encapsular tão minúsculo agressor, mas bastou lhe encostar a borda do conta-fios para que se pusesse a andar pela casca da banana e exibir, ativas, suas seis patas sob a cápsula transparente.

Tirei da banana o precioso adereço com a ajuda de um pedaço de pano e ele, por conta própria, passou para a capa do livro na mesa e se aquietou sobre a Carta de Pero Vaz Caminha a El Rei D. Manuel. Nela, o cronista real não fala desta criatura extraordinária.

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