ESQUECIMENTO (à Don Luiz... Buñuel, ou à sua mãe)

Memória, maldita memória!
Bendita seja a memória
Que, no resumo da história,
É tudo o que somos nós.
Apagadas as lembranças,
O mito do "aqui-agora",
O presente sem passado
Sem porvir ou esperanças
Resta o quê? Um fim atroz.

Se tudo apenas existe
Na lembrança que persiste
No bicho que pensa saber...
Na imagem que insiste,
Eterna, em permanecer...
Imagem talvez vivida,
Talvez imagem sonhada
Sombra de um devaneio...

Pouco importa - tanto faz!
No fim, é tudo memória,
Lembranças à toa
Sem glória.
Pedaços meio apagados
Amontoado de traços,
Vestígios da triste história,
Do nada que somos nós.


SP 18/09/86






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