anterior
à carta anterior

 March 10, 2011 3:25:29 PM GMT-03:00

"O meu amigo roçou de leve o dedo na parede: e uma coroa de lumes elétricos, refulgindo entre os lavores do teto, alumiou as estantes monumentais, todas de ébano. (...) Subitamente a um canto repicou a campainha do telefone. E, enquanto meu amigo, curvado sobre a placa, murmurava impaciente "Está lá? - Está lá?", examinei curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho... (...). Nesse instante rompeu de outro canto um "tic-tic-tic" açodado, quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face ao telefone:
- Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divan. Uma tira de papel que deve estar a correr.
E, com efeito, duma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete, como uma tênia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei maravilhado."
(trecho de A Cidade e as Serras ,Eça de Queiroz, escrito em fins do século 18, publicado postumamente em 1901).
A propósito: adorei a crônica. E retifico: "Tudo, simplesmente tudo que ainda dorme no inconsciente da humanidade à espera de sua hora e vez." Não apenas isso, mas o que surgirá a partir de necessidades impensáveis que ainda surgirão um dia.


Pois é, são inúmeras e diversas as maravilhas que maravilharam nossos avós, cada uma a seu tempo. Cada uma conforme seu contexto: ouvi do próprio Orlando Villas Boas a história do índio que, trazido para São Paulo, após uma semana, na hora da volta e ante a oferta de que escolhesse o que quisesse da 'civilização' para levar a sua tribo, escolheu uma torneira, sem compreender que ela sozinha era incapaz do milagre da água a jorrar... Cada um sabe de suas maravilhas.

Sim. O mundo dos netos de nossos netos é inimaginável.

      cronistaprendiz

|índices| |índice das cartas| |mail|