anterior  Wednesday, April 13, 2005 4:43 PM

 

gostei muito. parece um réquiem, como o de Mozart, só que ele não concluiu, né? dizem. É verdade que ele morreu antes? a mãe zebra ficou vendo a ação dos carniceiros? quem foi o colega? você se identificou com os pais do colega? pergunto por causa de todas as roupas da Anucha que ainda estão aí.

tenho lido muito sobre morte e explicações de psicólogos e os mais sensíveis deles concluem que é inexplicável mesmo, brutal, intolerável, inaceitável. E a psicóloga que eu mais gostei, Maria Helena Franco (eu tre falei dela, que tem um centro de atendimento de luto), disse: "passamos a vida buscando meios de lidar com o inaceitável, que é inerente a nossa condição. Podemos negar, podemos negociar com a morte, aceitar que nascemos, crescemos, reproduzimos, morremos. Por isso é mais brutal aceitar a morte de uma criança ou jovem, porque não foi este o pacto que nós fizemos." Essa mulher me disse que é balela dizer que luto dura 1 ano, que pode durar o tempo que for, cada um tem seu tempo.

Tem o trecho de um livro de uma psicóloga americana que estuda morte (tem mais de 70 anos), não sei se você conhece, a Elizabeth kubler-Ross, que, se eu terminar meu livro, vou citar: "Em nosso inconsciente, não podemos conceber nossa própria morte, mas acreditamos em nossa imortalidade. Contudo, podemos aceitar a morte do próximo, e as notícias do número dos que morrem na guerra, nas batalhas e nas auto-estradas só confirmam a crença inconsciente em nossa imortalidade, fazendo com que - no mais recôndito de nosso inconsciente - nos alegremos com um 'ainda bem que não fui eu'".

      sem assinatura


Nada sei sobre a vida de Mozart, a exceção do que lembro do filme "Amadeus", que ignoro se é ou não uma fonte confiável. O próprio filme acabou distorcido, para mim - vi umas três vezes, uma no cinema - desde que um diretor de filmes publicitários contou que chorava copiosamente com ele e toda noite o revia, para chorar... Seu terapeuta explicou: "claro, trata-se de um filme sobre ciúmes." Ele tinha acabado de se separar da mulher...

Foi o Cristiano Piquet Carneiro, não tenho nada a ver com os pais do Cristiano. Lamento, ou nem isso, um desenho a lápis que tinha, retrato meu feito por ele e que coloquei numa moldurinha improvisada perto da janela e uma tempestade de verão destruiu. As roupas da Anucha estão lá jogadas, não estão em um quarto para ela, como na casa do Cristiano e quem quis foi lá e pegou o que quis, quando quis.

O que penso é que não é possível concluir - ou é inútil concluir - sobre a morte. São universos que não se tocam: o conhecido e o desconhecido. O conhecido pode especular o quanto quiser, mas o desconhecido está além da especulação.

Nunca tinha ouvido esse nome: Elizabeth Kubler-Ross. Para mim, não se trata de conceber a morte, mas de morrer. Não somos capazes de morrer. Para nada. Nos apegamos a tudo. Agarramos com unhas e dentes objetos, pessoas, idéias. Não morremos para ontem, para o ano que passou, para nada. Temos medo.

      cronistaprendiz


 

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