Cena à beira-mar

06/07/15

Pouca chuva bastou para formar muitas poças ao longo das famosas senoides das calçadas de Copacabana. Em uma maior e mais profunda, um bando de pombos - cerca de uma dúzia - parecia muito à vontade a se banhar eriçando as penas e se sacudindo na água limpa com inevitáveis borrifos nas aves mais próximas.

Um homem parou para observar a cena incomum. Outros passantes ignoraram aquele banho público e coletivo e seguiram absortos em conversações reais ou virtuais ou atraídos por mercadorias apregoadas ou expostas em panos estendidos sobre as pedras portuguesas. Um outro grupo de pombos observava a cena sem se arriscar a molhar os pés.

Não havia pombos nas praias cariocas antes da década de sessenta, mas não confio na memória. Atualmente a praia está tomada por esta ave urbana. Um pouco adiante, na larga faixa de areia defronte a um dos bares construídos junto à orla, muitos pombos pareciam atraídos pelo estabelecimento com muitas mesas e poucos clientes no domingo frio.

Um primeiro decolou e entrou ali passando rente à cabeça de um freguês. Percebi, então, não ser ele o primeiro: no chão, entre as mesas, outras aves já beliscavam sobras. Vieram outros voando sob o teto baixo e passando muito perto de rostos e penteados. Dois pousaram sobre mesas vazias. Uma senhora rechonchuda, visivelmente aborrecida, sacudiu com energia os braços na tentativa de afastar os mais próximos de sua mesa.

Como na Piazza San Marco, os columbídeos parecem não ver no homem um predador. Ignoram sua presença, salvo pelo alimento dele derivado e, apesar dos reflexos metálicos de algumas penas, dos conspícuos pés vermelhos e permanente comportamento reprodutivo, este também os ignora, inclusive os de imaculado branco associados à paz. Os pombos se tornaram paisagem, como a calçada, a areia, o céu e o mar.

Mon, 6 Jul 2015 09:11:33 -0300

Sempre penso que se os primeiros cristãos soubessem que a pomba viria se tornar uma praga urbana e um vetor de doenças contagiosas, teriam escolhido uma outra ave para representar o Espírito Santo...

Abçs

Ebert

Bem, eles não tinha lá os beija-flores, mais parecidos com a fada Sininho do Disney...


Mon, 6 Jul 2015 11:25:11 -0300

só mesmo você pra falar de pombos urbanos nojentos com tanta delicadeza e precisão visual. Pombos brancos são cada vez mais raros, me parece. Serão de raça???? Não gosto de pombos, mas jamais poria veneno como tanta gente faz. Gosto daqueles cor de rolinha que ficam nas árvotres, não invadem nossos telhados nem voam em bares e cantam pupupu-ru.
Me lembrei que nos anos 70 tinha pombos na areia da praia, mas poucos. Uma vez um cachorro pegou um na boca e a dona do cachorro ficou histérica porque seu animal doméstico ia pegar doença e não queria largar o pombo morto. um horror. Cena de Ipanema.

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Também me parece serem raros os pombos brancos, mas calei por ter apenas suspeição sem certeza ou dado objetivo.
Lá na Vila Diva se viam umas quatro espécies diferentes de pombos, sem contar as rolinhas, pombos também.
O seu "pupupu-ru" me lembrou as que faziam ninho no telhado da Sorocaba e arrulhavam muito. Papai conseguiu expulsá-las, mas não lembro como.
Devem, então, ter começado a conquistar as praias cariocas na década de setenta...


Mon, 6 Jul 2015 11:20:38 -0700 (PDT)

pombo passa tanta doenca, nao gosto de pombo no meio da cidade assim, especialmente no meio de um restaurante?
enfim
nao tinha pombo na praia, nao, mesto mais tarde do q sua memoria ...

      sem assinatura

Parece ter truncado: "mesto mais tarde", o que seria?
Pois é, mas salvo a senhora gordinha, os outros fregueses não pareciam se importar...

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