clode.kubrusly@gmail.com em 1966  Crônica do dia

Cerúleo

15/03/07

O frio pega o dia pelo rabo e o rabo do dia é a madrugada. (Se a leitora - ou leitor, sim senhor! - preferir trocar o dia por noite, é fácil: o frio pega a noite pelo rabo e o rabo da noite é a madrugada. Dá no mesmo.) O fato é que do lado de cá do fim do mundo as madrugadas já estão frias, prenúncio inequívoco da nova estação...

De Paris chega notícia de que lá, também, a primavera chegou antes e os termômetros se apressaram na escalada de grau em grau... Só não fiquei sabendo se também chegaram antes os 'alouettes' que, adolescente, aprendi ser o pássaro-símbolo do início da primavera a justificar a canção infantil que nos ensinavam nas escolas: "Oh, alouette, gentil alouette. Alouette je te plumerais..." E que, depois, seguia infinita, pois se podia espichar a letra a depenar cada minúscula parte do corpo da indefesa e hipotética cotovia.

imagem de vários sites da internet
Alouette ou cotovia

Hoje, desde muito cedo, o cerúleo aplacou males e curou dores. A cor azul, intensa, límpida e transparente de um céu impecável provoca em mim das sensações mais gratificantes de que sou capaz de lembrar. Às vezes, me parecem, ela cor, ele céu, tão indispensáveis à saúde e à sobrevivência como a água e o ar. O azul de céu imaculado seria alimento ao que, em nós, transcende ao corpo mas, o que seria, se há? E importa?

Queria apenas registrar esse efeito balsâmico do espaço e da cor, sim, da amplidão também. Outro dia assinalei que os aglomerados roubam aos que se aglomeram um bem inestimável - a visão cinemascope, ou como quer que hoje se chame, com que a natureza nos dotou. Cedo, tudo que queria era conclamar: corram, saiam cedo, gozem seus horizontes - está tudo azul, céu beleza! - mas, simplesmente, me perdi - não sei dizer coisas simples, as mais simples. Quem sabe daí tanta sede de azul?

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