Crônica do dia

Chilena

21/11/02

Associação imprópria, dir-se-ia, analogia insana, mas é possível traçar paralelo entre estes dias de fim de primavera e a disposição mais comum e corriqueira, o estado de espírito e humor da maioria das pessoas comuns, que estudam ou trabalham de dia e acabam por usar a maior parte da noite para dormir.

Como elas, os dias também clareiam indefinidos em meio a névoas que ocultam o que se terá pela frente - sol, tempestades, ventanias, calmarias cinzentas e úmidas? Impossível saber. Hoje, a lua tecia poemas madrugada afora até a proximidade da manhã, a acobertar tudo em brumas a espera do Sol.

O astro despe despudoradamente a Terra até a última nuvem, a desvendar regaços e rios e matas e densas florestas de totens de ocas e foras de tocas de onde emergem o rugir de motores e fumos e fedores e gemidos e clamores. Dia claro, céu azul e sol beleza, é como cara bem lavada e barbeada ou devidamente empoada de todo creme e loção e proteção e pomada.

À tarde, o calor e a faina toldam uns e outro, gentes e dia se cobrem de nuvens, ameaçam tempestades, rugem trovoadas e relampagueiam faíscas. O calor prostra. No zoo se constata nessas tardes o esforço sobre-humano da bicharada para piscar um olho. Nenhum arrisca a manobra com os dois ao mesmo tempo...

A chuva não passa de ameaça, se cai, vai molhar outro lugar. Pouco antes do ocaso, uma leve aragem: a fresca da tarde - não dona Sabrina, não se trata de uma senhora, não, é só um ventinho, mas tão bem-vindo, que ganhou o apelidou e seu tempo o de hora-feliz, uma idéia infeliz, já se vê. Tal como as pessoas, o dia se faz, outra vez, transparente e luminoso para receber a noite. O dia que é feito de noite e dia e não o dia que parte e deixa de ser...

Quanta bobagem! A previsão para amanhã é da entrada de uma frente fria, que traz ar frio forte. Ela viria do Pacífico, pelo Chile...

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