Choveu?

6/02/98



Algumas das melhores cenas que vi no cinema estão sintetizadas no movimento idiota de um limpador de pára-brisas. O que acontece, na maioria dos casos, é que chega-se a um ponto na história em que a câmara abandona as personagens, às vezes abandona a própria história, e pára no ciclo mecânico, que se repete sem fim... No pára-brisa as gotas se transformam em lentes, físicas e simbólicas e a realidade se transpõe de imediato para outra dimensão... O caminho, que quase sempre mal se vê através do vidro e da chuva, leva a outros tempos, a outros fatos ou ao fim do filme.

A chuva parece um estado de espírito, em si. O céu branco, uniforme e a luz difusa, incapaz de qualquer sombra. As plantas alegres e as pessoas atrapalhadas. A terra agradecida e transformada em lama. Nós apavorados talvez com medo de sermos tragados pelo barro e voltar ao lugar de origem... Na porta do cemitério de minha infância está escrito, em latim: "volta ao teu lugar"- Revertere ad locum tuum...

Essas tempestades de agora, que se repetem dia após dia neste verão que já prepara o outono, são outra coisa: súbitas, violentíssimas, e tão rápidas que mal conseguem escurecer o céu. Muitas vezes, aliás, tem-se ao mesmo tempo sol e chuva e mil rimas para as marcar. São cheias de eletricidade e ventos para fazer jus à fúria de Zeus... Arrancam as folhas, que por cá mal amarelam e vão, pouco a pouco, despindo as árvores...

Também temos, de certa forma, nossos dois tipos de intempéries e tal qual na meteorologia, parece que os ódios prolongados e remoídos são capazes de mais danos do que a cólera súbita e destemperada, porém efêmera...

Passaram-se três horas! O vitrines resolveu que não vou cronicar hoje. Mas um pouco de teimosia sempre é bom. É preciso lembrar que os primeiros tempos com uma madrasta deve ser sempre uma coisa complicada... A placa mãe primeira jaz com sua bateria que parece um espelhinho... A chuva já passou há muito. Foi linda e por causa dela o Maneh precisou dormir por algumas horas: medo de raios! Minha mãe, se fosse viva, diria com toda certeza: "gato escaldado tem medo de água fria". O ditado sempre me trouxe, na infância, uma imagem tétrica do tal gato sendo puxado pelo rabo de um caldeirão de água fervente. Acho que misturava essa imagem com outra, também apenas imaginada: Don João Ratão sendo tirado da panela do feijão, sempre puxado pelo rabo. no dia em que se casaria com a Dona Baratinha... É, dona Sabrina, naquele tempo não tinha televisão... era preciso fabricar as próprias imagens...

É muito provável que venha a perder os três ou quatro leitores que ainda tenho, mas não vou processar o senhor Vitrines Comportas. Aquela torta foi a minha vingança! Minha e de muita gente. Alguns amigos me telefonaram para ter certeza de que eu vira a foto. Três cartas (37, 38 e 39) insinuam o beijoqueiro pastelão que se esconde em cada um de nós.

Coloquei "Bill Gates" no Altavista. Veio a informação de que 83105 documentos preenchiam o requisito. Os vinte primeiros não eram... digamos assim, mimos ao homem mais rico do mundo. Um site divertido (em inglês) publica um suposto diário íntimo do senhor Janelas.

Vou parar por aqui, antes de outro chilique do sistema operacional...

 

    O antigo endereço [http://www.tiac.net/users/diary98/index.htm] não existe mais.

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|

105