Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Confetes e serpentinas

19/06/06

Conversei com a amiga que, agora, descobre maravilhas em um ou outro filósofo bem como horrores em mitos canonizados por academias sisudas. Na conversa, falamos de 'Humano, Demasiado Humano', livro que tem como subtítulo 'Um Livro para Espíritos Livres'. Além do mais, o autor, Nietzsche, o definiu como "um grande livramento" mas, aqui, o evoco tão só pelo belo título para com ele justificar minha reação: entendo o silêncio, depois da última crônica, como um sinal para calar. Um alerta sobre o eventual esgotamento do que poderia contar. Um sintoma do vazio dos que não bebem em fonte viva para clarear seus olhos e tornar leve seu coração.

Assim, calei, mas hoje, chegaram, juntas, três cartinhas - prefiro chamar assim e-mails de sabor norte-americano - a jogar confetes e serpentinas no texto que misturava namorados e competição de futebol. De rigor, namorados, por estarem sempre juntos em toda parte o tempo todo, se misturam a tudo e saem ilesos, sem se contaminar com nada. Isto, os verdadeiros enamorados, que só têm olhos para o outro e, por isto, podem estar no céu ou no inferno que paisagem não muda - para eles será sempre incomparável: a perfeição do rosto, das formas, de tudo no outro.

Já as competições serão sempre competições e envolverão todos os outros, não enamorados, em disputas alheias. Serão estimuladas e promovidas por interesses diversos e servirão, quase sempre, para consumar tais interesses, sejam os de poucos, com o envolvimento de incontáveis multidões ou de quem se diz educador e não sabe como obter o que deseja de meia dúzia de crianças.

Por isso tudo, esta confissão: é apenas humano, demasiado humano que eu tenha precisado dos confetes e serpentinas para decidir retomar este contato, nada virtual, que aqui se registra e documenta, com seres humanos únicos e bem sabidos.

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