autoria: José Lauro 

Contaminação

10/03/17

Seria ótimo se fossemos capazes de lidar com o presente sem qualquer contaminação do futuro nem do passado. Mas não temos tal capacidade e preconceitos, ideias, ideais e até propagandas previamente assimiladas nos acodem diante dos fatos e impedem, tanto quanto nossos sonhos, desejos e projeções de um futuro, de perceber com isenção as coisas tais como são em cada momento efêmero.

Nossa máquina de pensar tropeça em si mesma e mistura sentimentos, conceitos e "certezas arraigadas" à turbulências hormonais, desequilíbrios metabólicos e ansiedades que não podemos evitar. Os desejos se impõem, os medos se intrometem, o passado ameaça. Como, então, lidar com isenção com o presente, com o que está a acontecer?

Um busca a solidão, o silêncio, a austeridade e, eventualmente, até a castidade na tentativa de melhor lidar com seu tumulto interior. Outro procura o gozo de todo e qualquer prazer ao alcance de seus meios, sem medidas, sem restrições e espera com isto aplacar a angústia mal sabida que o incomoda.

Alguns se entregam de corpo e alma ao trabalho, um empreendimento, uma atividade filantrópica, à conquista de algum louro para, só depois de obter fama, bens ou lauréis, constatar a permanência do mesmo vazio inexplicável.

A ciência soluciona desafios e amplia permanentemente o conhecimento humano, a tecnologia materializa sonhos e facilita o cotidiano, a medicina encontra curas e prevenções a prolongarem a vida humana mais e mais e, apesar de tantos feitos surpreendentes, os homens não conseguem amarem-se uns aos outros como há milênios se recomenda.

Sem dúvida seria ótimo possuir equilíbrio e discernimento para lidar com cada novo desafio da vida com uma visão clara, isenta, livre dos abalos resultantes das turbulências de nossa mente e sem qualquer contaminação do futuro nem do passado.

Sat, 11 Mar 2017 12:00:29 -0300

Pois, em seis parágrafos, você disse tudo sobre nossa mente contaminada.
Adorei.
Tenho isso, (anexo) na varanda do meu ap.
Acho maravilhoso. Beijo.
fotografia da missivista

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Que bom que você gostou! Obrigado.

Cuidado com "isso" - conheço bem. Criei várias junto com as crianças em potes de vidro, as alimentando com folhas de onde as capturara, até puparem e, depois, eclodirem adultas como mariposas. Esses espinhos, que mais parecem árvores de natal em miniatura, soltam um veneno que provoca muito ardor, queimação e vermelhidão na pele.

Certa vez, meu filho, por volta dos 11, 12 anos pisou descalço em uma dessas,que atravessava a área de serviço. Ficou um dia sem conseguir pôr o pé no chão e teve muita febre...

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