Correspondência

28/05/08

Ontem, me chegou uma carta. Há muito o carteiro não deixava nada diferente de conta, extrato ou propaganda. Ontem, repito, achei uma carta na caixa de correio, física, material, feita de tijolo e cimento!

Em verdade, era mais que carta. Chegou-me um convite ou, ainda mais, pois convida para um casamento, celebração em que a tecnologia pouco meteu o bedelho. Ah, como difere uma carta de papel, metida num envelope com selo, carimbo e sobrescrito à mão, de mensagens eletrônicas! Além do peso, do tato, se a sente pela caligrafia, letra corrida eloqüente na 'imperfeição' que torna única cada obra de mão humana. Desta altiloqüência da letra cursiva surgiu a Grafologia. No palpável, tudo diz. Com sutileza uma fita cobria algum engano e permitia, com elegância, a correção do CEP do remetente... Outro detalhe a fazer mais sedutora à correspondência, mais irrecusável o convite...

No selo, um acordeão carmim tendo, à guisa de fundo alaranjado, o estereótipo do chapéu de cangaceiro. Grande e desbotada, na rodela do carimbo ainda se lia: Botafogo, Rio e o 23, da data. É comunicação vagarosa, mas encantadora. A mim, parece mais humana - como se o remetente mandasse mais de si, com a carta, ao destinatário, apesar destes nomes burocráticos - destinatário e remetente.

Dentro do envelope, uma página solta, com quatro furos - quiçá subtraída a algum caderno ou agenda -, pautada, com data da véspera, 22, sublinhava a sinceridade do convite que envolvia. Um deleite!

Tanto gosto, talvez, apenas por que cada faceta do mundo ao redor me parece mais desumanizadora. Onde a competição prospera a criar adversários, concorrentes, desafetos, inimigos e a ganância distorce tudo em árido horizonte psicológico ou, ainda, vê a Máquina descartar paulatinamente o Homem, como numa história em quadrinhos que há muito li...

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