crônica do diaclode.kubrusly@gmail.com

Corruptômetro

20/09/05

Primo Nicolau chegou cheio de novidades. Olhar maroto, sorriso de vitória antecipada e o inseparável charuto que me acende a cada tragada a velha vontade de umas baforadas.

Sem preâmbulos, me deu um aparelho. Pareceu-me um telefone móvel, um celular, mas não era. Devolvi com explicações de que jamais tivera um celular e não queria nenhum e nada entendia de tais maravilhas. Aí, contou que não era celular.

Tratava-se, na verdade, de um corruptômetro, o primeiro medidor universal de corruptibilidade. Claro, era também telefone, câmara - de foto e vídeo, mini-computador, agenda portátil, conta-passos, marca-passo, minimassageador, termômetro, altímetro e outras mil e uma inutilidades. Servia, inclusive para medir pressão arterial e nível de glicose no sangue, mas que o importante, mesmo, era a capacidade de medir corruptibilidade.

Tudo virtual - virtude para começar! Uma vez com a pessoa que se quer testar, o presente inicia uma bateria de testes pré-programados através do novo celular. São propostas e tentações que nem o diabo seria capaz de sonhar.

Quais? Não sei, explicou o primo, e disse que nem os autores do corruptômetro poderiam dizer, pois haviam sofrido lavagem cerebral em lavanderia de dinheiro sujo, certificada por iso um milhão e um.

Mas é fácil imaginar, disse Primo Nicolau, com toda a tecnologia de falsificação de que se dispõe, telefonemas de muita intimidade, com a voz de quem se quiser, que reconheceremos... convites - adrede ou por engano, mas usáveis - para uma boca-rica qualquer, irresistível... propostas de empregos públicos etc. Grava-se a reação imediata da vítima, é claro, ao vivo, tim-tim por tim-tim, online...

Depois é processar... a informação, obter o grau de corruptibilidade e ver que o cavalo de Tróia continua a galopar e o olho do Grande Irmão diminuiu e se multiplicou.

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