(de esporadicidade imprevisível)

Crônicas matinais

24/05/18

Padarias madrugadoras. No final da adolescência, em uma pacífica cidade, o Rio de Janeiro, quantas vezes, ao voltar em plena madrugada de vãs procuras ditadas por superabundâncias hormonais, passava por padarias e encantava-me a febril atividade dos padeiros e auxiliares a abastecer os fornos com lenha e a trabalhar e moldar a massa, tudo para assegurar o pão quente de cada manhã, com seu cheiro convidativo a demandar a companhia de excelente manteiga fresquinha e uma xícara de café com ou sem leite, com ou sem açúcar, tudo aguçado apenas pelo perfume de pão recém-tirado do forno.

De tais lembranças veio-me a fantasia de fornecer uma nova crônica a complementar o dejejum tradicional ou modificado por costumes importados, com o acréscimo ao repasto primeiro de bacon frito, ovos mexidos e panquecas cobertas com xarope de bordo, mais conhecido como Maple Syrup nas importadoras. No início — lá se vão mais de 20 anos! — prometi um novo texto para acompanhar o café da manhã. Tudo era então novidade e, por diferentes motivos, falhei seguidamente neste propósito e acabei por abandonar aquela intenção. Declarei a esporadicidade e imprevisibilidade no fornecimento da leitura... matinal?

Ontem, graças a uma inesperada insônia madrugada afora, aproveitei a vigília forçada e enviei "Minuto após minuto" por volta das 5h45. Qual não foi minha alegria ao ler na réplica de um velho amigo "como é bom ter um amigo que cronica de madrugada e nos dá o prazer de ler coisas interessantes e inteligentes logo ao acordar" e, ainda por cima, ele usou um verbo só recentemente registrado na língua formal, mas do qual já me socorri inúmeras vezes: cronicar, o ato corriqueiro de se tecer crônicas.

Bem, se sobrevierem novas insônias nas próximas madrugadas, certamente resultarão crônicas para o alvorecer.

NOTA: Muitos dicionários ainda não registram o verbo correspondente a "escrever crônicas", porém o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, já o inclui. volta

Thu, 24 May 2018 09:17:32 -0300

Como bem disse Oswald de Andrade; “A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”. Café com cronica é um dos luxos que posso me dar graças ao amigo.

Grande abraço

Ebert

Aproveitemos, enquanto durar!
Obrigado.
Abraço, c.


Thu, 24 May 2018 09:23:55 -0700 (PDT)

continue cronicando, por favor!!!!!
smepre vale, a qq hora
bjs

      sem assinatura

Você ainda as lê!?!


Thu, 24 May 2018 23:06:37 -0300

huuummmm, padaria ao alvorecer, que delícia. Nunca as vejo, pois não alvoresço com o dia, ra ra ra, sempre achei ruim ver o sol nascer, gosto do por do sol que perdeu o acento e, acho, também os hífens. Como não ligo o computador cedo, por mim, as crônicas podem chegar a hora que for. Veja, a de hoje, estou lendo quase amanhã….
Adorei-a! Senti o cheiro do pão, aguei (sem trema, humpf) pela manteiga derretida, senti o cheiro do café com leite que eu não gosto. Você e seu dom de tornar real o que descrevem (suas) palavras.

      sem assinatura

Sem dúvida, a última Reforma Ortográfica tornou mais absurda a escrita da Língua Portuguesa e não parece ter agradado a ninguém, de um lado ou do outro do Atlântico ou alhures. Todavia, creio que o acento do novo pôr do sol não tenha ainda sido banido, pelo menos assim indica o Vocabulário Ortográfico da Academia.

O trema se foi de vez, sim. Eu gosto do clarear da manhã, embora raramente possa acompanhar os prenúncios de um novo dia por estar dormindo. Agora, dei para acordar na madrugada. Veja, respondo nessas horas silenciosas...

Que bom que você gostou! Obrigado por suas palavras.

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