desenho de Mima

Dane-se a razão!

31/10/16

continuação

Na batalha desigual com o poderoso oceano, tentava opor o mínimo de resistência e aproveitar ao máximo as forças ferozes das águas, quando me pareceu ouvir uma voz... uma voz feminina. Logo me ocorreu viajarem os sons na água em velocidade bem maior do que no ar e me veio a lembrança de terem muitos mamíferos marinhos desenvolvido uma linguagem própria de cada espécie para se comunicar... Agora, uma voz humana e de mulher a se propagar através dos mares fugia a toda explicação.

Apurei os ouvidos na tentativa de decifrar o som incerto a me chamar a atenção. Era difícil entre as enormes vagas e violentos puxões saber de onde vinha a voz misteriosa... Queria me manter submerso em busca da resposta ao enigma, mas precisava sempre voltar à tona em busca da repetitiva dose vital de oxigênio.

Ante o absurdo daquela voz feminina cujas palavras não conseguia entender, notei, para minha maior surpresa, tratar-se de uma voz bastante familiar... E meu espanto cresceu muito mais ao constatar estar há um bom tempo submerso sem necessidade de retornar à superfície para respirar.

Daí em diante desisti de procurar argumentos ou explicações para tantos absurdos a me envolver por todos os lados e exclamei alto e bom som comigo mesmo: dane-se a razão! A gaiola de Descartes era ainda uma prisão! A verdadeira liberdade implica a loucura! Bem-vindos todos ao reino do nonsense, ao país do impossível!

imagem da internet

A partir de então pude compreender e identificar a voz de mulher a me ferir os ouvidos - sim, voz cheia de afeição e aconchego e ouvi sem espanto a fala suave de minha mãe, morta há tantos anos e agora ao alcance de meus ouvidos. Senti encher-se-me o peito do indizível e duas lágrimas correrem, uma de cada olho, pois abolira as leis da Física a impedirem lágrimas de escorrer em um rosto submerso...

Quiçá continuará...

Tue, 1 Nov 2016 22:54:13 -0200

EEEEEEE DANE-SEEEEE! Ainda nem li mas já gostei do título, A D O R E I! ! ! ! !

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Que legal! Dane-se, então!


Tue, 1 Nov 2016 22:58:16 -0200

gostei demais, você vê que eu li ao contrário, né? primeiro a de hoje, depois a de ontem.
você tá ligado no 23º aniversário da morte da mamãe sexta-feira? eu, sim.
Inveja boa: quisera eu ouvr a voz dela agora.

Não queria macular este email com chatice, mas o verbo haver urge revelar-se, Clode:

estar a um bom tempo

é, na verdade:
estar um bom tempo


e tem um pronome sobrando aqui:
Senti se encher-me

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Tive muita dúvida quanto ao verbo...
O pronome não está sobrando, não. Inclusive mudei no site depois de receber a resposta da minha consulta. Vou encaminhá-la para você.
Obrigado pelo copi.
Vou corrigir.


Fri, 4 Nov 2016 19:54:38 -0200

...e veja de novo essas palavras preciosas...
"A partir de então pude compreender e identificar a voz de mulher a me ferir os ouvidos - sim, voz cheia de afeição e aconchego e ouvi sem espanto a fala suave de minha mãe, morta há tantos anos e agora ao alcance de meus ouvidos. Senti se encher-me o peito do indizível e duas lágrimas correrem, uma de cada olho, pois abolira as leis da Física a impedirem lágrimas de escorrer em um rosto submerso..."

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Hoje, exatamente, faz 23 anos que mamãe morreu...


Wed, 9 Nov 2016 20:04:06 -0200

... nem uma única palavra depois de ouvir e reouvir o que você escreve sobre a lembrança da mãe... da nossa mãe.
você é uma preciosidade, sempre.

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Um abraço apertado.
Um beijo.


9 Nov 2016 23:25:39 -0200

que coisa bonita uma voz primordial maritima

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A vida veio da água...

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