foto de 5 de dezembro de 2015

Desídia

05/10/16

Um plágio e uma atenuante: copio a mim mesmo pela desídia do clima insalubre desses dias. Aliás a palavra me era desconhecida: desídia. Aprendi outro dia, pela rádio Gaúcha, num diálogo insípido sobre futebol. Parêntese - tenho notado, em minhas caminhadas, o quanto a testosterona se impõe nas conversas masculinas onde, percebo também, predominam dois assuntos: futebol e mulher. Feche-se o parêntese.

Contava da palavra a mim apresentada pelos debatedores da emissora, após uma partida de futebol, desídia. Assim: um dos comentaristas, ao se referir ao ânimo de um dos times durante a partida, mencionou a desídia da equipe e concluiu seu comentário com outras considerações com a maior naturalidade. Ao acabar, um colega o interpelou: "como é mesmo aquela palavra que você usou?"

O primeiro a repetiu e o colega lhe pediu que a soletrasse e depois o inquiriu sobre o significado. O jornalista sabia bem do que falava e definiu com precisão o termo pouco usual. (Um dicionário fala da ausência de força ou estímulo para agir, outro menciona disposição para evitar qualquer esforço físico ou moral e um terceiro é mais sintético e aponta apenas o que os outros dão como sinônimos: indolência, ociosidade, preguiça.)

Já se vê extraviei-me pelo caminho e o perspicaz leitor, a sagaz leitora o notou. Era outro o assunto, o tal plágio de si mesmo, pois é tempo de jabuticaba, pelo menos a velha jabuticabeira que ainda considero minha, pois não se vendeu a casa, costumava se carregar - e como! - entre setembro e o princípio de outubro.

Em cinco de outubro de 2001, descrevi o assédio de um enxame de insetos e algumas aves a profusão de suculentas frutas, para mim, a evitar. A cena sempre me lembrava "Os Frutos da Terra", de Gide, pelo forte odor de vinho a emanar do chão coberto de jabuticabas em putrefação. Lá, eram maçãs.

Wed, 5 Oct 2016 12:28:14 -0300

clode querido
adoro teus textos!

vc escreve diariamente desde quando?
citou 2001...
vc já divulgava pela internet nesta epoca?
quando começou isso?


t'ermão e eu já estamos de casa nova. queremos vc aqui. alguma viagem programada prá sampa?

e, por fim... viu que dó o incendio na fau/fundão?
quase pegou a sala de meu grupo de pesquisa. por pouco.


bjbj

bia

Oi, Bia,

Para não afrontar o velho ditado, comecemos pelo fim: a FAU, na época da Universidade do Brasil, mudou-se para o Fundão em julho (sim, no meio do ano!) de 1961. Entrei para a faculdade meio ano depois e éramos, na época, a única faculdade instalada na ilha (o resto continuava na Urca e demais campi).

A notícia que ouvi no rádio sobre o incêndio não identificou qual a faculdade e, ao ouv&ia cute;-la, é óbvio, cogitei será... Obrigado pela informação, mas imagino que tudo lá deva estar muito mudado, são já 55 anos passados!

Surpreendente que você, aí em São Paulo, saiba qual sala foi queimada aqui no Fundão...

Falei com meu irmão na véspera da mudança e ele me informou: "é minha última noite aqui... onde vivi mais de vinte anos..." talvez estivesse um pouco apreensivo.

Programada não, mas quero, sim ir a São Paulo, rever amigos e ver as mudanças lá na velha Vila Diva, dividida, cercada com grades e metida a condomínio chique. A casa continua à venda, mas não se vende...

Comecei a publicar as crônicas nas internet, inicialmente em sites que ofereciam esta possibilidade de graça (o primeiro foi o GeoCities, que não existe mais, depois de adquirido pelo Yahoo), sempre mudando quando mudavam as regras e permissões de cada um: ig, bol e outros cujo nome nem me recordo mais, desde 18 de agosto de 1997.

Antes, criei uma home page na mesma GeoCities e toda essa história está contada, parte no "sítio do clode", parte em algumas das 1483 crônicas, desde então.

Por fim, que bom que você gosta, impossível evitar um sorriso diante de uma declaração dessas, por mais que se queira ser apenas mera folhinha da imensa floresta da humanidade, sem gabar-se de sua individualidade e outros atributos egoístas.

Obrigado, muito obrigado.


Wed, 5 Oct 2016 16:22:39 -0300

... fiquei com saudades de mangas nos chão
pés no chão...

      sem assinatura

Daqui a pouco estaremos repetindo Casimiro de Abreu: "Oh, que saudades eu tenho / da aurora da mina vida, / da minha infância querida / que os anos não trazem mais! ...."

Adiante o poema canta: "Naqueles tempos ditosos / ia colher as pitangas, / trepava a tirar as mangas, / brincava à beira do mar ...."

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