Crônica do dia

Divagar para chegar ao campeão

03/11/05

Ninguém sabe, mas existe outro Olimpo, redondo como o Maracanã onde vivem filhos e filhas de Dionísio longe de neves e amantes de areias quentes. Brincalhões, além da ambrosia e demais prazeres do copo e corpos, como cabe aos de sua ascendência, divertem-se com jogo humano e esdrúxulo, cuja origem se perde no tempo e, dizem, começou com disputas de chutes nas cabeças decepadas de inimigos. De futecoco acabou futebol.

A esta altura do campeonato - literalmente - é que deusas e deuses dão bola ao campeonato do país que se diz do futebol. A partir de agora, despertam do inevitável torpor de um ócio eterno, do dolce far niente onde tudo se faz e mais e, em tela líquida e cristalina, assistem ao derradeiro escorrer do campeonato do dim do mundo - quer dim-dim, quer? - pela ampulheta das divisões.

Lucubram, então, epílogos diversos para o folhetim futebolístico e, entre si, apostam na saída para o labirinto traçado por patetas e trapalhões.

A nós, mortais e torcedores, resta apostar nas apostas divinas. Tentar adivinhar como se divertem as divindades. Ah, são tantas as alternativas de divertimento divino!

Por mim, rendo-me, a devaneios como o mestre surrealista do cão de Andaluzia e vago de sonho em sonho sem dry-martini ou o aconchego de um bar que já não existe mais. Divago com facilidade por erro de fabricação e me deixo levar pelas visões como um peixe segue seu cardume.

Divague também, é fácil construir visões deliciosas. Ponha nelas deusas, por exemplo, deusas lindas reclinadas em nuvens fofas sobre os gramados como meninos sobre seus tabuleiros de jogo-de-botão. Deusas de colos perfumados a pender ameaçadoramente sobre uma partida como cúmulos-nimbos prestes a derramar sobre indefesos atletas, tempestades, raios, gols e provações.

Acreditem, de divagar em divagar se chega ao campeão.

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