crônica do dia

do lado de fora

06/09/06

Água gelada na talha de barro. A manteiga fica dura, na manteigueira. Os marimbondos não levantam vôo e se amontoam sobre seu ninho de papel. Adiante, caído no chão, um pedaço de ninho do mesmo tipo. Sob a folha generosa da palmeira está a casa de vespas destroçada pela ventania, com seus andares expostos. Não há moscas.

Morrem as pessoas que dormem nas ruas e, se não morrem, se expõem a outros males e outras mazelas, derrotadas pelo frio descabido ou, como adjetivou a leitora fidelíssima, "é uma coisa desoladora e deprimente e perniciosa!"

Em verdade, o frio e as palavras de ontem deste aprendiz trouxeram dois comentários e ambos diziam, de certa forma: fale, fale do frio!

O dia está branco, a umidade altíssima, o frio, bem, prefiro manteiga mole e detesto água gelada.

O cão vem me chamar na janela. Vou ver o que quer. Quer brincar. Com o frio, sua alegria explode como fogos de artifício. Saltita como cabrito novo, malgrado seus nove anos. Corre a pegar uma coisa qualquer para dizer que quer brincar.

Hoje escolheu um pedaço de casca seca do fruto de paineira. O Trouxe na boca para que eu tentasse tirar. Aí corre, aí foge, aí rosna, aí provoca - pura alegria. Sou obrigado ao exercício físico atrás dele. Mas, em verdade, sua alegria, absolutamente contagiante, é a grande salvação no frio.

Ele adora frio. Nos dias quentes, só quer dormir. Fica prostrado, jogado como bicho de jardim zoológico. Parece ter preguiça até de mexer os olhos.

Quem não gosta de frio sou eu, nem de água gelada. Afinal, tudo que peço é para me deixarem do lado de fora da geladeira. Podem congelar minha água, minha manteiga, as frutas e tudo mais. Tudo bem, mas, pelo amor de deus - que deus?, sempre repeti, diante desta locução - pelo amor de deus me esqueçam do lado de fora da geladeira!

 

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