Domingo azul

21/12/09

Como água ao redor do ralo, rodopia o ano em seu estertor. No turbilhão se foi, primeiro, a primavera nas águas de um ano pleno de intempéries. Hoje, estréia o verão, quiçá para inaugurar de leste a oeste, de norte a sul, mais dias de imaculado céu azul, tão importante para a saúde da mente, da alma, do imponderável, de cada um.

Depois de domingo tão especial, azul, azul, azul - e com sol beleza e muito calor, aqui, por certo, neste fim de mundo que o mundo já invade, enquanto nevascas e outras borrascas matam e fustigam lá, onde o inverno acaba de começar. Mas a Terra não pára e logo será junho a fazer lá verão e a nos maltratar aqui.

Havia a promessa, às vésperas do verão, de sol, calor e, embora não mencionado, o céu azul fundamental. O sábado, todavia, sucumbiu ainda aos deuses das precipitações e nele prevaleceram os torvelinhos de nuvens a macular o azul. Mas o domingo veio esplendoroso como provocação de verão, como imenso sorriso da natureza.

Nestas vésperas da efeméride, recendeu mais forte o velho odor de podre do reino da Dinamarca, fedor já farejado há 400 anos, ou mais.

Logo chegará o décimo ano a fechar a década primeira do novo milênio. A vida, por certo, encontrará seu ponto de equilíbrio - de um jeito ou de outro, excessos serão banidos e cada nova possibilidade aproveitada. A ameaça ainda não é ao planeta, mas às espécies mais frágeis, com menos opções de adaptação. Dostoievski tentou definir o Homem, em 'Casa dos Mortos', como um ser capaz de se adaptar a qualquer coisa, qualquer situação.

Será? Ou caberá às baratas escrever o último capítulo? Por enquanto, constato precisar desse azul, dessa abóbada infinita, verdadeira égide do que, em mim, não sei definir.

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