desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Era da comunicação

25/03/19

Na década de setenta, muito antes do advento da internet e das redes sociais, em uma pequena Escola de Fotografia de São Paulo, a nova professora advertia os alunos: "nunca se falou tanto e comunicação e nunca a comunicação foi tão difícil". Não posso jurar pelas palavras, pois se evaporaram como se evapora sempre a comunicação oral, mas calaram fundo em mim, testemunha da cena.

A escola mencionada era, é óbvio, a enfoco e se tratava de uma das primeiras aulas de sua mais recente e ilustre "aquisição": Maureen Bisilliat. Ao ouvir sua observação, logo pensei: verdade, a comunicação é o tema da moda e já era, então, como continua as ser, grande a dificuldade de comunicação entre pessoas.

Em quase meio século, surgiram a internet, os smartphones e as redes - sociais, de fotografias e vídeos, de pios e outras interligações -, mas as pessoas continuaram a discutir e se acusar, permanece a maledicência e o fofocar e surgiram as informações propositalmente mentirosas para atingir outrem, um suposto adversário ou provocar reações de seu interesse egoísta na complexa estrutura da sociedade.

Por muitos aspectos Maureen me impressionou nos tempos de enfoco: sua cultura, seu refinamento, sua incrível capacidade de lidar com a imagem fotográfica, tanto como fotógrafa como editora e - por que não dizer? - também por seu charme e inteligência. Ás vezes, sua clarividência sugeria uma visão acima da dos simples mortais.

Hoje, quando há uma profusão de recursos a interligar pessoas para facilitar o entendimento, parece maior a gigantesca confusão e o desentendimento reinantes por toda parte. Volta-me sua observação singela de o fato da comunicação estar em grande evidência não garantir, absolutamente, uma melhor comunicação entre as pessoas. Os mais poderosos meios não mudam o ser humano que os usa.

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