fotografia de circa 1962.

de esporadicidade imprevisível

Escapei de ficar famoso

27/06/18

Anestesiado pela mesmice do cotidiano, de onde poderiam advir eventuais temas para cronicar, mas se reprisam com monótona displicência o já visto, já dito, já noticiado, procurei nas gavetas do computador velhas anotações na esperança de encontrar aí semente para alimentar este singular canal de relacionamento, distante das redes sociais, dos correios e telégrafos, do telex e fac-símile e muito mais de Fidípedes.

Na busca achei uma nota curta, com um título: Escapei de ficar famoso. Ei-la, na íntegra: Por toda vida, vez em quando, olhei à roda e me repeti ser um cara de sorte e que, fosse lá o que fosse que se conjuminasse para me levar assim vida afora, como se fora uma criança ou inválido, pela mão e abrir-me portas e sorrisos e acender de antemão refletores e fazer ruflar tambores, tudo, me fazia exclamar, vez ou outra, caramba, no balanço final, tenho sorte.

Sim, não reclamo de minha sorte apesar das perdas que tive, mas intriga-me, na verdade, o título dado ao que pode ser um começo abandonado. Acontece ocasionalmente entusiasmar-se com um vislumbre, principiar a obra intuída e, por um ou outro motivo, abandonar inconcluso o que há pouco parecera tão promissor.

Escapar é safar-se, livrar-se de situação perigosa, dolorosa, desagradável etc., nas palavras do Houaiss. Provavelmente aquele texto seria uma introdução a considerações sobre delícias e tormentas da fama. Cogito agora com meus bigodes a hipotética continuação do suposto trecho inacabado.

Daria como mais um exemplo da sorte a me acompanhar vida afora o fato de não ter-me afamado por nenhum motivo, não ter destaque nos meios de comunicação, jamais correr o risco de me fazerem estátua colocada em praça pública para servir de poleiro aos pombos e mictório aos cães.

Não sei, era uma nota curta do século passado.

Sat, 30 Jun 2018 08:56:53 -0300

Adorei a analogia (ou diferenciação?) com Fidípides!
Não me lembrava mais desse nome - se é que algum, dia soube!...
Mas lembrava da origem das nossas maratonas (sem os detalhes).
Ai, ai, memória esgarçando...

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Tampouco eu lembrava do nome do soldado que morreu após entregar sua mensagem, mas vivemos em tempos de internet, com fácil acesso a toda informação. Lembrei da história e recorri ao Google para chegar ao nome do autor da proeza.

Não percebo nenhuma falha em sua memória.

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