crônica do dia

 

espinhos

22/12/00

 

É verão. O primeiro dia do verão - ontem foi só meio dia, pouco mais - começa puro e azul. Não aquele azul intenso que fere a alma como espinho, por razões inexplicáveis, e fere mesmo quando se trata de alma de criança. Mistérios? Não, que sabemos de azuis puríssimos ou de espinhos de rosas e limoeiros? Ah, são outros os tempos! Mas o verão cumpre sua sina de calor e luz, malgrado a avidez e a ganância dos profetas fajutos. É verão, não carece pagar para ver.

espinho de limoeiro, 65mm

As putas não estão mais nos lupanares. Putas, sim. Sem a frescura de dizer prostitutas ou outros eufemismos, embora permaneça a metáfora aqui, pois não se cuida de senhoras ou senhoritas que vendem o gozo e usufruto do próprio corpo. As putas evadidas dos lupanares, isto é: foragidas dos prostíbulos, dos puteiros, estão por toda parte, nas revistas e jornais, no rádio e na tevê, em cada gabinete de político existente e, pior, como germe naqueles que se engendram. É verão, não carece pagar para ver.

Vendem remédios, cremes para embelezar e emagrecer, doses de felicidade do que chamam amor e pílulas para ciúmes e dor de corno. Há de tudo e, aparentemente, todos estão dispostos a emprestar seu rosto, sua voz, sua imagem para vender o que quer que seja, desde que se pague o preço, exatamente como as moças do cais do porto. Dependendo do preço combinado, até aquilo pode... É verão, não carece pagar para ver.

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