Publicação esporádica para se perder como inútil mugido de vaca.

Espinhos

21/11/12

Teria uns seis anos. Encaminhou-se até a roseira e, repetindo o que já fizera inúmeras vezes, empurrou lateralmente um bom espinho até arrancá-lo do talo. De posse de seu trunfo, foi direto para a menina que lhe parecia mais bonita, estendeu-lhe a mão com o espinho entre o polegar e indicador e disse: toma, é para você se defender.

A cena, há muito esquecida, ressurgiu de estalo em minha memória. É obvio que, passados mais de sessenta anos, muito detalhes se perderam e é impossível saber quanto de invencionice se mistura aos fatos da infância. Porém, mais estapafúrdio foi o modo pelo qual voltou de chofre à lembrança ocorrência tão remota:

Um ex-aluno da enfoco, Fernando Espindola, contou-me ter aprendido, em seu recanto na Ilha Bela, ficar qualquer tipo de mato com cara de grama depois de aparado. Adotei o método, uma vez que, faz tempo que o gramado de outrora virou mato, por aqui. Com as primeiras chuvas e a luz abundante de dias longos de sol a pino, o mato viceja e cresce quase a se poder vê-lo crescer.

Cortava o mato para parecer gramado, de sandálias, quando um incômodo no pé me fez trocá-las por botas. Findo o trabalho, voltei às sandálias e, daí a pouco, constatei ter machucado mesmo o pé. Passei a evitar pisar onde doía, a base do dedão. Passou-se o resto do dia. No local dolorido, difícil de ver, pareceu-me ter um hematoma com pontinhos de coloração mais forte. Continuei a pisar na borda externa do pé e constatar continuar a dor quando, por distração, apoiava na área machucada.

À noite, ouvi um som diferente vindo do calçado. Peguei a sandália e lá estavam, cravados na medida, dois grandes espinhos da vetusta paineira. Eram proporcionais à espessura do solado e apenas quando pisava forte sobre eles alcançavam a sola do pé.

Solucionado o problema, surgiu-me a cena remota...

November 21, 2012 1:26:53 PM GMT-02:00

menina de sorte ... :)

Semana passada desencravei de um tênis meu um pedregulho de vidro que se comportava da mesma maneira, só pisando que sentia... Quanto tempo será que ficou lá me sacaneando?
Daí o dito sobre pedra no sapato que não sei qual é. ficou bom o dedão?
bj
vi

Sim, na hora em que tirei os espinhos da havaiana!
Não me lembro, tampouco, do ditado sobre pedra no sapato, mas sei que existe.
Pois é, os meus espinhos ficaram por algumas horas...


November 21, 2012 6:10:17 PM GMT-02:00

Que estória e texto mais do que ótimos! bj

      sem assinatura

Sempre me surpreende o comportamento da memória! Este, de trazer à tona fatos tão remotos devidos à cutucões de espinhos, de novo me deixa boquiaberto.


November 22, 2012 12:20:07 AM GMT-02:00

adorei a cena
que gracinha!
pra vc se defender
com 6 anos, gentil cavalheiro com a menina mais linda!
uma fofura! amei
bjs, querido irmão ... saudades, Maren

O que me surpreendeu foi a forma de lembrar um fato tão remoto: uma espetadela, ou várias. Os acupunturistas devem ter outras explicações...

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