Aquarela do autor

de esporadicidade imprevisível

Fábricas de sonhos

27/02/17

A festa do Oscar na noite de ontem chegou-me com aura inédita e não me refiro ao acidente de percurso tratado pela mídia como a maior gafe da história do prêmio...

Em toda sua grandiosidade, na extravagante indumentária dos participantes, na afetação exagerada e nervoso sorrir nas falas, no desfile com poses incertas para fotógrafos e toda a grandiosidade pretendida na sucessão de rituais, em tudo, me pareceu, desta vez, apropriado e até natural, graças à perspectiva da humanidade de Harari, no livro "Sapiens".

Nele aprendi a importância do mito no desenrolar da história humana, o papel decisivo das coisas construídas pela imaginação na evolução de nossa espécie. Percebi a realidade do mundo imaterial em que vivemos, construído por crenças coletivas. Compreendi a importância do silêncio sobre a nudez do Rei e, nos tempos modernos, Hollywood é a mais poderosa e permanente fábrica de mitos, um manancial inesgotável de novas crenças a se amalgamarem ao inconsciente coletivo.

Nunca vi grande diferença entre os sonhos fabricados como filmes e aqueles que nossos cérebros elaboram a cada noite. O poder do Cinema sobre o comportamento e a maneira de ver das pessoas é óbvio demais para se precisar provar. Um único exemplo ilustra a abrangência das mensagens das telas de cinema: quantos, no século passado, passaram a fumar devido às cenas glamourosas de fumaças contraluz?

Nada mais justo, portanto: celebre-se mundo afora a festa cafona da entrega de uma estatueta dourada aos membros eleitos da corte hollywoodiana. Literalmente, assim caminha a humanidade, acreditando nas fantasias por ela mesma criadas, com fé quase religiosa.

Em uma coincidência rara, um outro show megalômano acontecia simultaneamente, em outra usina de ilusões, na Marquês de Sapucaí desfilavam fantasias no ritmo do samba...

 

Mon, 27 Feb 2017 17:21:12 -0300

Uau, obrigada!
Embora não goste de ler na tela (e imprimir está fora de questão, com o preço dos cartuchos...), vou tentar dar uma lida no livro, esse é um assunto que sempre me atrai.

Anexo um texto meu que é um dos capítulos iniciais de meu (junto com duas colegas) único livro de autoria (não sei se é assim que diz: texto nosso, e não organização de capítulos de vários autores). A história desse capítulo tem uns lances engraçados. Uma dessas colegas, uma grande amiga de Ribeirão, tinha (e tem ainda) uma certa resistência

à ideia de que seja possível (e necessário) integrar as ciências do homem incluindo as ciências biológicas (aliás, uma ideia que vem do século 19, está presente inclusive no jovem Marx, mas foi deixada de lado por muito tempo - como muitas vezes acontece nas ciências). Por causa disso, ela resistia um pouco a incluir esse capítulo no livro.
Aí aconteceu o seguinte: o marido dela, que era formado em medicina, mas trabalhava na USP de Ribeirão, e era um pesquisador reconhecido internacionalmente, encontrou a versão final do capítulo, impressa, na mesa do escritório deles - e ficou entusiasmado, comentou com ela, querendo saber de onde tinha saído e pra que era esse texto.
Resultado, ela mudou de ideia...


O livro (Aprendendo com a criança de zero a seis anos) foi escrito pensando em um leitor comum, não especialista (tipo alunos, educadores, público em geral), dai a linguagem simplificada, muitas ilustrações (que não aparecem no arquivo) e a ausências de referências bibliográficas no decorrer do texto; as fontes foram indicadas no final do livro.

Quem sabe você também gosta, como o Sérgio Ferreira gostou...

Bjs
Ana

Oi, Ana,

Você vai gostar, estou certo. Também não gosto de ler na tela, mas estou quase acabando pois o livro prende e é difícil parar.

Quanto ao seu livro (você já me falara dele) vou começar a ler, quando acabar o Sapiens (estou lendo também, relendo, a Pedra do Reino).

Obrigado por mandar.


Wed, 01 Mar 17 14:25:17 +0000

Cópia email enviada a Kyra:
Hello! A few words after carnaval passed with Magy in Santana with friends and films, each one excellent: Moonlight poetically subtle, Manchester by the Sea, a greek drama that unwinds involving each and every one of us; Hidden Figures about 3 black women scientists in Nasa during the race to the moon. This year's Oscar was also interesting with a master of cerimonies sarcastically critical of Trump.
This afternoon Suzana and your editor friend will be coming. I'm looking forward to seeing them so as to start discovering ways to edit this very special little book!

Até mais com um abraço forte para todos!

Oi Clode, como você vê eu te sigo e as vezes vejo sincronias entre nossos pensamentos e pareceres. Sim, cinema continua sendo, cada vez mais, parte de nossas vidas. Menciono Moonlight, o extraordinário Eu, Danieal Blake e - para quem suporta esse drama grego que nos toca a todos: Manchester by the Sea.

Abraço forte, Maureen

Oi, Maureen,

Na verdade tenho visto muito pouco filmes nos cinemas, mas assisto alguns no computador e na televisão. De todo modo, o meio me toca e o considero poderoso instrumento na formação do inconsciente da humanidade. Ainda não vi nenhum dos três mencionados por você.

Obrigado pela atenção e carinho.

Um forte abraço


Fri, 3 Mar 2017 21:00:16 -0300

gostei!

      sem assinatura

Que bom!
Agora já são duas aprovações...

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