desenho de Mima

Flagrantes dominicais

23/10/17

Três meninos pequenos, aparentando uns cinco anos, tinham emaranhados seus seis braços a tentar ficar com uma bola. Puxavam-se mutuamente e gritavam, mas não se entendia o quê. Uns passos distante, uma voz masculina alteou-se no intuito de pôr ordem na disputa. Logo se aproximou uma senhora, cujo corpo mostrava predomínio horizontal, pegou a bola e, corroborada pelo cavalheiro, tentou explicar que o jogo se fazia com cada jogador pegando a bola a ele atirada e a arremessando, ato contínuo, ao seguinte.

Tudo inútil, cada um estava determinado a ficar com a bola e a abraçava com a maior força possível para ninguém a surrupiar. A paciente senhora, com uma blusa amarela, pegou a bola e a a lançou para um dos meninos. Ele reteve o precioso troféu e por nada o queria soltar, apesar das explicações e estímulos vindos do casal. Fizeram-se várias tentativas, mas nada, as crianças eram demasiado humanas. Chegou um quarto menino e se meteu na brincadeira. De braços erguidos e sorridente e gritava inutilmente: "aqui! aqui!"...

Estávamos na Avenida Atlântica, restituída aos pedestres a cada domingo ou feriado, ontem, um domingo de céu meio encoberto e horizonte opaco, onde mal se distinguiam os vultos de quatro navios. Passou, muito rápido, uma moça sobre um skate. Seguia-a outra jovem com patins de rodas enfileiradas e, mais atrás, vinha uma terceira, também sobre uma prancha de skate em deslocamento veloz e, mesmo assim, a usar ambas as mãos para prender, com um elástico, seu longo rabo de cavalo.

Adiante, uma menina em um carrinho elétrico, me olhou com manifesta curiosidade. (Seriam os pelos nas orelhas?) Passou e fez meia-volta. Virei-me a tempo de a ver ainda a me olhar, enquanto um casal atravessava a rua, com uma criança pendurada no braço da mãe e o homem a dizer à menina: "olha pra frente!"

Wed, 25 Oct 2017 23:55:56 -0200

que maravilha, flashes da realidade, me transportou para o domingo na avenida Atlântica. adorei a imagem do emaranhado de braços.
   Não entendi o que é
"cujo corpo mostrava predomínio horizontal"

      sem assinatura

Que bom que você gostou!

Por sinal, foram eles, os braços emaranhados, todos a segurar a bola ao mesmo tempo, que me fizeram parar, do outro lado da avenida e ficar a observar a cena.

Disse existir um predomínio horizontal para não chamar a senhora da blusa amarela de gorda.


Sat, 11 Nov 2017 17:13:02 -0200

  Essa sua maneira de comentar o que acontece ao redor de quem anda na rua... bom demais. Por mim eu ficava vendo suas observações sem nada alterar, apenas rever, e ver de novo.
De novo: parabens por seu olho muito correto...

bjos

manû

      sem assinatura

Obrigado.

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