JUNG

1.

.... personalidades que - para felicidade ou infelicidade delas mesmas - nunca, por exemplo, despertaram o interesse do público e que, malgrado ou mesmo por causa disso, possuem envergadura pouco comum; ou são pessoas que passaram por acontecimentos e catástrofes que ultrapassam a imaginação; ou ainda, trata-se de indivíduos com dons excepcionais, dons aos quais um outro ser, num entusiasmo inesgotável, poderia consagrar sua vida inteira, mas que, neste caso, estão implantados em uma disposição psíquica geral tão curiosamente desfavorável, que não sabemos se trata-se de um gênio ou um caso de desenvolvimento fragmentário.

C. G. Jung, trad. de "Ma Vie"(Erinnerungen, Träume, Gedanken); Atividade Psiquiátrica.

2.

"Nas experiências com o tempo e o espaço, respectivamente, esses dois fatores reduzem-se mais ou menos a zero, como se espaço e tempo dependessem de condições psíquicas, ou como se (não) existissem por si mesmos e fossem "produzidos" pela consciência. Na concepção original do Homem (isto é, entre os primitivos), o espaço e o tempo são coisas sumamente duvidosas. Só se tornaram um conceito "fixo" com o desenvolvimento espiritual do Homem, graças à introdução do processo de medir. Em si, o espaço e o tempo consistem em nada. São conceitos hipostasiados, nascidos da atividade discriminadora da consciência e formam as coordenadas indispensáveis para a descrição do comportamento dos corpos em movimento. São, portanto, de origem essencialmente psíquica, e este foi, provavelmente, o motivo que levou Kant a considerá-los como categorias a priori. Mas, se o espaço e o tempo são propriedades aparentes dos corpos em movimento, criadas pelas necessidades intelectuais do observador, então sua relativização por uma condição psíquica, em qualquer caso, já não é algo miraculoso, mas situa-se dentro dos limites da possibilidade".

SINCRONICIDADE - JUNG - 3.a Ed., Vozes (1988). parag. 840.

3.

Ocorre com frequência que mulheres que não amam verdadeiramente seus maridos sejam ciumentas e destruam suas amizades. Elas querem que eles lhes pertençam sem compartilhar, justamente porque elas não se pertencem a si mesmas. O núcleo de todo ciúme é uma falta de amor.

C. G. Jung, trad. de "Ma Vie"(Erinnerungen, Träume, Gedanken); Atividade Psiquiátrica.

4.

"Nenhuma língua está à altura desse paradoxo. Qualquer coisa que se diga, nenhuma palavra, exprimirá o todo. Ora, falar de aspectos parciais, onde só a totalidade faz sentido, é sempre muito, ou muito pouco. O amor (a caridade) `tudo perdoa, crê em tudo, tudo espera, suporta tudo' (I Corintios, XIII, 7). Esta palavra exprime tudo. Não saberíamos acrescentar nada. Pois somos, no sentido mais profundo, as vítimas ou os meios e os instrumentos do `amor' cosmogônico. Ponho a palavra entre aspas para indicar que não a entendo como um simples desejo, uma preferência, uma predileção, uma aspiração, e outros sentimentos análogos, mas um todo, uno e indivisível, que se impõe ao indivíduo. O Homem, como parte, não compreende o todo. Ele lhe é subordinado, está a sua mercê. Quer o aceite, quer se revolte, sempre cai seu prisioneiro e, dele, permanece cativo. Sempre depende dele, e tem sempre seu fundamento nele."

C. G. Jung, "Ma Vie"(Erinnerungen, Träume, Gedanken); Pensées tardives, pg. 402s

5.

... essa pessoas vivem de seus afetos: são levados por eles. Por um lado são orientadas por sua consciência no espaço - ela lhes comunica as impressões vindas de fora e, por outro lado, as pulsões e os afetos os agitam, vindos do interior. Mas isso, sem reflexão; o eu não tem qualquer autonomia.

"Ma Vie"(Erinnerungen, Träume, Gedanken); Voyages

KRISHNAMURTI

"Você notou que amor é silêncio? Pode ocorrer ao segurarmos a mão de uma pessoa, ao olhar, com carinho, para uma criança, ao admirarmos a beleza de um entardecer. O amor não tem passado nem futuro, e o mesmo se dá com esse extraordinário estado de silêncio."

Extraído de palestra em Bombaim, 6 de janeiro de 1960, em "Sobre Deus (On God)" tradução de Cecília Casas, Cultrix, 1994.

MALTHUS, Thomas Robert, (1766-1834)

"Já se disse que a grande questão que se lança agora é se o homem parte, daqui para frente, com velocidade crescente em direção a um aprimoramento ilimitado e até hoje inconcebível ou está condenado a uma perpétua oscilação entre a felicidade e a miséria e, depois de todos os esforços, ainda permanece a uma distância incomensurável do objetivo sonhado."

An Essay on the Principle of Population as It Affects the Future Improvement of Society, with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet, and Other Writers, London: J. Johnson, 1798. First edition.

McLUHAN

"O artista sério é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele é um perito nas mudanças da percepção."

Understanding Media- tard. Décio Pignatari/Cultrix/1969

MENOTTI DEL PICCHIA

Não! Não compreenderás o prazer que consiste
em se amar, como eu amo, um ser que não existe!
Plasmei-a dentro em mim e fi-la minha Eleita.
Chama-se essa mulher: a Beleza Perfeita!
A amada de D. João como é linda! No fundo
resume tudo que há de mais belo no mundo!
Ante o seu resplendor as estrelas são turvas:
é um poema de carne, um cântico de curvas!

Fi-la juntando a esmo a perfeição que encerra,
fragmentada e dispersa, a beleza da terra...
Nunca compreenderás o meu sonho exaltado:
como Osíris, o amor existe mutilado...
A eleita que sonhei enxergo-a, mas que queres?
vive disseminada em todas a s mulheres.
Sinto, vendo-a num seio, ou na curva de uns braços,
que a mulher que eu adoro é feita de pedaços...
Existe em toda a parte, e cada mulher bela
esconde no seu corpo alguma coisa dela!

Esta guarda-lhe o olhar; aquela, as carnes brancas;
uma, a forma do torso; outra a fuga das ancas.
Tomando de uma a cor, de outra um traço indeciso,
desta o corte do lábio e daquela um sorriso,
eu, fragmento a fragmento, a amada recomponho,
pois, em cada mulher, há um pouco do meu sonho!

Versos finais de "A Angústia de D. João", em "Poemas", Martins, 1960, pag. 158/9.
(volta a "apelidos")

MILORAD PÁVITCH

"O caminho mais seguro para chegar ao verdadeiro futuro (pois existe também um falso futuro) é ir na direção em que teu medo cresce."

Milorad Pávitch através de Nikon Sevast, demônio e personagem de "O dicionário Kazar", ed. fem., Marco Zero, pag. 87

MORRISON

"... a obra é imaginativa e, ainda que circunstancialmente, um conciso índex visual da biblioteca de 10 milhões de espécies que o tempo compilou dos escritos das hélices moleculares."

Philip Morrison em "Books", Scientific American, Apr 82, pag. 23, sobre o livro "Five Kingdoms : An Illustrated Guide to the Phyla of Life on Earth", de Lynn Margulis e Karlene V. Schwartz.

NELSON RODRIGUES

"Eu ia para o fundo do quintal e, lá, sozinho, ficava sonhando. O umbigo tinha qualquer coisa de irreal. E essa nesga de carne, vista, entrevista num segundo fulminante, comoveu e marcou toda minha infância"

"Ali, eu estava conhecendo a mais antiga das figuras femininas: - a adúltera." ... "Vem assim dos meus sete anos casimirianos toda minha compaixão pela infiel." ... "Eis o que aprendi em Aldeia Campista: - não se chama uma adúltera de adúltera, jamais."

Nelson Rodrigues, "A Menina Sem Estrela", Companhia das Letras, 1994, pag. 40 e segs..

"Mas eu andava na rua e ninguém me conhecia, ninguém me apontava. E aí estava a duplicidade alucinante: - eu era nominalmente célebre e fisicamente desconhecido. Minha cara não significava nada para ninguém."

idem , pag. 173

"Depois, através dos anos, reli muitas e muitas vezes , a mesma cena. Adulto, e já com um mínimo de lucidez crítica, pude perceber o mau gosto hediondo. Mas aí é que está: - a grande ficção nada tem a ver com o bom gosto."

idem , pag. 178

"'Disse: - Quando amo, não desejo. Até hoje, não dei um beijo na boca da pequena.'" Ele não entendia que alguém pudesse desejar o ser amado. Pensava, por outras palavras: - 'Todo desejo é vil'. Agarrou o investigador pelos dois braços e o sacudia: - 'Desejo qualquer vagabunda, menos a minha noiva'."

idem , pag. 184

"Mas, representando a prostituta, elas se transfiguravam. ... Percebia-se que estavam crispadas de sonho, doentes de voluptuosidade. E tinham a naturalidade, e a graça, e o movimento exato, e a inflexão certa. Era como se, naquele momento, cada uma estivesse cumprindo um imortal hábito feminino."

idem , pag. 202

"Ao contrário do que pretende a ópera bufa, o marido é o primeiro a saber, exatamente o primeiro. Antes da mãe, da sogra, do vizinho, do fornecedor - o marido sabe."

idem , pag. 206

"Se Deus me intimasse a optar entre o Hélio Pellegrino e a humanidade, eu daria a seguinte e fulminante resposta: - 'Morra a humanidade!' E se fosse, não o Hélio, mais o Paulinho Mendes Campos, diria do mesmo jeito e com a mesma ênfase: - 'Morra a humanidade!' E com isso ficaria claro, para mim, o amigo é o grande acontecimento, e repito: só o amigo existe e o resto é paisagem."

Nelson Rodrigues, 26/6/1968, reprod. em "O Óbvio Ululante" Companhia das Letras, 1995

"O que seria de nós e, repito, o que seria de nossa unidade interior, se não fossem três ou quatro idéias fixas? Vocês entendem? Três ou quatro idéias fixas que nos perseguem do berço ao túmulo?"

Nelson Rodrigues, 04/12/1969, reprod. em "O Remador de Ben Hur" Companhia das Letras, 1996, pag, 159

"Tenho dito, obsessivamente, que sou uma flor de obsessão. Ora, uma coisa muito repetida vai perdendo a solenidade inicial, e tornando-se humorística. Amigos meus já me saúdam assim: - "Olá, Flor de Obsessão!", "Como vai, Flor de Obsessão?". Eu respondo com esplêndida naturalidade: - "Vou indo. Estou caprichando".

Sou o colunista que se repete com um límpido impudor. Não tenho o menor
escrúpulo em usar duzentas, trezentas vezes a mesma metáfora.

As coisas ditas uma só vez, e só uma vez, morrem inéditas."

(enviadas por Mima Kubrusly, de um livro de frases de Nelson Rodrigues)

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