cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Fundos

02/10/14

Não há como ignorar a cacofonia de marteladas e motores e assobios e falas e gritos da pequena multidão ocupada na reforma de um hotel cujo fundo se pode avistar. Dá para um vazio onde os fundos de todos os prédios se encontram, em grande quadrilátero de pisos escurecidos, a maior parte, suponho, a cobrir as respectivas garagens.

A obra mostra alguns andares aparentemente concluídos, outros à espera das melhorias e ainda outros escancarados, com as paredes da fachada demolidas, onde se concentram muitos operários com maçaricos e mais ferramentas. Toda a atividade gera um grande ruído e, como ocorre também em bares e restaurantes, a barulheira se retroalimenta ao induzir que cada um fale mais alto para se fazer ouvir. Apesar do som ensurdecedor de algumas máquinas, as vozes humanas, muitas e simultâneas, se distinguem no bulício.

Sem prestar especial atenção, as falas superpostas são incompreensíveis, mas além do significado das palavras nossa voz informa pela entonação. Diante de um diálogo em língua desconhecida, sabemos perfeitamente o estado de ânimo e até as intenções dos interlocutores. Assim se percebe o bom humor geral dos operários no complexo vaivém de uma construção: ora sobem, ora descem por um elevador desembutido a correr de alto a baixo pela fachada em reforma, ora se equilibram em estreitas beiras ou tábuas, com a carga que for ou se reúnem ao redor de um desafio.

Em um dos pátios de fundo, um homem com uma raquete de pingue-pongue e uma bola, a joga repetidas vezes contra uma parede. Em outro, um cão peludo e preto circula, perscrutando com o focinho o chão. O sol acha uma brecha entre muitas nuvens e alegra a cena com um mormaço tímido. No hotel em obras surge, em uma janela de um andar a espera da reforma, um mulher de uniforme a limpar os vidros com rodo e pano!

Thu, 2 Oct 2014 17:57:35 -0300

Quer dizer que Copacabana nos devolveu o Clode fotógrafo? Adorei,bj

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Papai sempre repetiu: "quem não sabe fazer ensina". Sempre estive neste caso, jamais fui um fotógrafo, porém adoro observar as coisas ao redor.


Sun, 05 Oct 2014 18:31:35 -0300

só li hoje, ADOREI!!!!!! cara, como você (d)escreve bem!!!!!!!!

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Deve ser consequência de um exercício comum no Primário: descrição. Nele, a professora pendurava na borda do quadro-negro um "cromo", isto é, uma gravura de qualquer coisa - uma paisagem, uma cena com personagens ou bichos etc. e tínhamos de (d)escrevê-la.

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