crônica do dia

Guarda-chuvas

26/01/04

A repórter especificou: ... "os índios estão do lado de fora do Pátio do Colégio". Descrevia uma das primeiras entre inúmeras cerimônias que por todo dia, até à madrugada, ocupariam o noticiário das rádios de São Paulo, na comemoração de quatro séculos e meio. Ela repetiu e disse ser importante salientar, que a apresentação feita por índios remanescentes de uma tribo, que mora no Jaraguá e executava, com instrumentos típicos, agradável música, acontecia do "lado de fora do Pátio do Colégio"...

É muito provável que se trate de simples ignorância deste cronistaprendiz. É possível que exista um Pátio do Colégio interior, coberto por abóbada e de sólidas paredes, sombrio e úmido como a gruta de Caco ou que, por razões da língua que jamais poderei alcançar - ou morfológicas, históricas, políticas, ou de intrigas familiares, sei lá -, possível que exista tal pátio abrigado de sol e vento, protegido de intempéries, como a chuva que molhou o aniversário e até da quase imperceptível garoa, que criou fama na cidade e que, ainda assim, fechado, continue pátio... Mas que importa a chuva quando se toma o guarda-chuva como pretexto à elegância e a imagem como pretexto ào cronicar? Ah, o homem - mulher inclusa - morre pelo olhar!

 

trecho de capa de revista - 1979
trecho de capa de revista - 1979

 

Choveu e chove ainda. A previsão é de chuva por mais três ou quatro dias. Ainda há pouco, responsáveis pela água encanada ameaçavam com racionamento e proclamavam janeiro como mês seco. O sertão nordestino vê enchentes que jamais viu. O verão matou milhares de velhos na França, queimou feio a Austrália e Portugal. Agora, temperaturas negativas atingem recordes na costa leste da América do Norte. Abram seus guarda-chuvas, senhores, encantem com os seus, senhoritas!

Apesar da chuva, um bolo de 450 metros e tonelada e meia de farinha, desapareceu em poucos segundos a marcar o tamanho da fome de quatro séculos e meio.

 

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