desenho de Lu Guidorzi
basta um clique! 

berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Hino antigo

26/03/02

 

"morfo"

Morpho - nome genérico (aqui, genérico por se tratar do Gênero, na classificação zoológica) daquelas borboletas inacreditáveis e azuis, inclusive a mais incrível, mais metálica e mais azul, que alguns imbecis caçam e transformam em bandejas e outras coisas à venda, como "recordação" em pontos turísticos.

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desenho de Walter Linsenmaier do livro Insects of the World
desenho de Walter Linsenmaier do livro Insects of the World

Oh deuses, por que não soube entender os sinais? Que possam essas chamas, consumindo-se em si, fazer correr nos subterrâneos meus, lentamente como da ferida no lenho, o âmbar translúcido da compreensão e despregar meus olhos, cegos há mil milênios, para enxergar a beleza do feio e o horror insuportável da aparência do belo e, olhando através de coisas e tempos, que eu possa ser mais forte que as forças somadas da dispersão de tanta energia, da dissolução de todos os sonhos, sonhados em todos os tempos. E que a água puríssima, vivificadora, fluindo em nossos subterrâneos, buscando as gretas minúsculas da rocha, tenha certeza da fatalidade de ter que um dia aflorar.

Corre água sagrada da deusa morena, soberana dos deuses que habitam em mim. Corre mil vezes mil tempos, até amolecer a crosta sedimentada, geração após geração, para que a morfo inacreditável possa eclodir da crisálida e voar azul no azul de todos os céus. Voa, luz metálica de meus sonhos para tornar possível, do alto, acreditar na mentira de que o azul do céu copula num abraço infinito, no horizonte improvável, com o azul do mar, mentira também.

Voa, faísca efêmera de todos os azuis, sobre as matas prostituídas pelos escombros do templo erigido na brutal beleza do granito! Vôa alto, muito alto, para não ver as feridas na pedra e no mar.

 

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