Crônica do dia

In Justitia

14/09/05

À revelia, me volta o tema e se impõe. A velha senhora, simpática às vezes, nunca bonita, de olhos ignotos vedados aos mortais e mãos ocupadas com espada e fiel, vem, toma conta e me obriga a desculpas - ei-la, inexorável! - a desculpar-me com leitoras, que prefeririam gorjeios de pássaros ou pinceladas da primavera iminente e do inverno surpreendente, tardio ou outras, que esperam que toque de novo no intocável mundo do coração...

Aquela senhora ultrapassa a metáfora. Não é símbolo, obra de cantaria, externos a nós. Habita nossa entranhas, no fundo. É claro que serve de disfarce àquele que quer vingar, castigar, aplacar o próprio ódio, que transborda e contamina. Não é a senhora da venda nos olhos que julga. Cada um de nós é juiz o tempo todo, implacável!

Mães, esposas, namoradas e amantes, que passam frio, noites, chuva e vento à porta das jaulas de homens - pais, maridos etc. não costumam se importar com filhas, mulheres, namoradas e amantes enjauladas - clamam por justiça, mas querem vingança. Ecoam nosso juiz, aquele que nos habita, é impiedoso como o Jeová da bíblia. Terrível com todos e, inclusive, com quem o carrega, mesmo que esse não perceba o peso dessa contínua condenação.

A capacidade de síntese de Jesus sempre me deixa perplexo. Aqui, é impossível não se lembrar: "Não julgueis, para não serdes julgado" - tão pouco compreendido - e "Atire a primeira pedra... " - onde "pecado", via de regra, se toma com conotação religiosa, infelizmente.

Se fôssemos muito sinceros com a gente mesmo e olhássemos sem preconceito ou julgamento para dentro de nós, nos veríamos capazes de qualquer crime, em circunstâncias idênticas às de quem os cometeu de fato. Os piores, os crimes mais repugnantes.

Dia 22 é o equinócio da primavera. Signo de Libra, simbolizado por uma balança.

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