'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Lâmpada apagada

15/10/18

Ideias luminosas são apontadas nas histórias em quadrinhos com uma lâmpada supostamente acesa a brilhar no balão de diálogos ou a boiar sobre a cabeça da personagem acometida por uma "ideia luminosa". Nelas, alguns "iluminados" são cientistas, capazes de engendrar máquinas do tempo, outros são espertalhões ou endinheirados diante de uma súbita oportunidade de novo golpe ou meio de ganhar mais dinheiro.

Já na vida real, milhões de pessoas buscam agora o indício de uma ideia reparadora, vestígios da tal lâmpada milagrosa, capaz de apontar uma saída para o desastre iminente resultante das escolhas intempestivas, determinadas por paixões, do último pleito eleitoral. Agora está feito e uma parcela enorme da população terá de escolher entre opções repudiadas ou se abster. Shakespeare não teria tecido um roteiro com maior ironia!

Passado o entusiasmo do primeiro momento, aflora um grande desânimo coletivo. As pessoas percebem a situação criada pela escolha da maioria, sucumbem à tragédia do perde-ganha e se resignam ao inevitável: quem quer que vença trará consigo o dissabor de uma amarga derrota.

A lâmpada da ideia salvadora apta a alterar este quadro ainda não se acendeu. A população se dividiu entre os dois oponentes e a disputa se transformou em confronto, com todas as mazelas da guerra, neste embate absurdo herdado dos machos dos carneiros, bisões, elefantes e tantos outros. Gestos extremados surgem de um lado e do outro como ameaças à vitória adversária.

Um psicólogo talvez atribua à "terra abençoada por Deus" a fúria agora disseminada através de redes sociais: isentos das grandes catástrofes naturais - terremotos, vulcões, maremotos (tsunamis), furacões etc. - teriam os brasileiros usado esta via para ativar certos hormônios e comportamentos de seu background de sobrevivência.

Mon, 15 Oct 2018 11:18:33 -0300

me lembrei de que vc se mudava e levava as lampadas das casas…vamos guardar as lampadas que funcionam

      sem assinatura

Surpreendo-me agora com a sua lembrança, pois pois mudar-se com as próprias lâmpadas me soa óbvio, natural. Talvez indique uma atitude mesquinha, uma falta de magnanimidade. Não sei. Fico pensando quanto mais de meu jeito soa absurdo a outras pessoas... Somos fruto de experiências de vida e isto nos diferencia...

Que a lâmpada das boas ideias se ilumine!


Mon, 15 Oct 2018 14:10:32 -0300

A visionária Dilma Roussef já havia profetizado há tempos: “ Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.”

Abcs

Ebert

Oi, Ebert.

Brilhante lembrança, obrigado!

Será que já fizeram uma coletânea com as fabulosas declarações dela?


Mon, 15 Oct 2018 14:45:56 -0300

Oi, Clôde

Talvez você conheça uma música do Tarancón (que aliás foi gravada no período em que meu
irmão fazia parte do grupo e é ele quem canta essa música). Desde que saíu o resultado
do primeiro turno ela não sai da minha cabeça. O refrão que dá título à música é: Pobre mi tierra/ Pobre mi gente...

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Infelizmente não conheço a música e nem mesmo sabia sobre seu irmão. Sou praticamente nulo em Música, com exceção de uns poucos clássicos.

No entanto você lembrou-me uma velha piada que, de certa forma, contradiz o refrão título: quando inquirido sobre os privilégios brasileiros quanto à tormentas e catástrofes naturais, o Criador ter-se-ia desculpado: "espera, verás o povinho que colocarei lá..."

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