crônica do dia

Liberdade

11/09/02

11 de setembro de 2001
        11 de setembro de 2001

A pequenina Filomena saiu de mansinho pois, definitivamente, não suportava mais a mesmice daquele mundo asséptico, eficiente, inteligente, mas estéril onde ao final de cada dia a esperava outra noite eterna a se espichar até o raiar de novo dia, ou vice-versa, e assim sucedeu que se deixou escorregar por entre os grandes dedos em meio a grãos de areia fina através do gargalo estreito do tempo sem ampulheta invertida até cair no alto da mais alta montanha e desfrutar a amplidão do horizonte que permitia avistar longe, muito longe, embora só se visse, em todas as direções, água, água e mais água e, sedenta, lambeu com gosto o gosto salgado de todas as praias virgens de cada amanhecer de noite espichada, repletas de grãos incontáveis, grãos inúteis como alimento para corpos de carne e de sangue mas que, tecidos com ferro, com pedra e cimento, dão corpo a torres e castelos dos sonhos dos homens, erupções da lava ignota sempre a espera de todas as princesas e cinderelas indefesas, que também esperam e suspiram pela chegada de seus príncipes centauros ou, apenas, erigidas para imitar as crianças das praias do mar, do mar que devolve a areia, que devora castelos, que derruba torres e estreita gargalos e esparrama a lua e esparrama o sol e mais mil estrelas a molhar os pés, os pequeninos pés de Filomena.

 

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