crônica do dia

Líquido

01/02/05

Fevereiro começou garoento por aqui. Noite e madrugada de garoa fina ou chuvisco que depois tamborilava em folhas largas sob o beiral. O grande aparato tecnológico e a multidão de especialistas prevêem um carnaval com chuva. Podem errar, é claro. É fevereiro.

Fevereiro vem de "Februa, denominação emprestada a Juno no tempo da purificação e do desagravo", ensina Hernani Donato, em sua "História do Calendário". Lá, conta também que, como Janeiro, foi Numa Pompílio, segundo monarca romano, que introduziu o mês, ao reformar o antigo calendário do Lácio de apenas dez meses. Queria imitar gregos e fenícios, mais cultos, que acabara de conhecer.

Aqui e agora, capim cresce pelos joelhos e suas sementes minúsculas estão maduras e caem em abundância sobre o cimento forrado de musgo.

O homem deve ter observado o interesse de muitos bichos por esses pequeninos grãos antes de começar a cultivar o primo desse capim, que doura seus campos e sustenta sua mesa há milênios, os trigos. Aqui, são as rolinhas e formigas que disputam a semente do capim.

A maioria das árvores já se desfez de grande parte de suas folhas e preparam o outono com afinco. No caquizeiro, velho, que perdeu um grande galho este ano, pássaros de todo feitio e cor disputam com grandes marimbondos marrom escuros os frutos antes mesmo que possam amadurecer. Os chicos-magros estão carregados, mas os frutos, ainda verdes.

Há pouco, pela Dutra, confirmei a feiúra crônica de Aparecida. Descobri que, até outro dia era bairro ou distrito de Guaratinguetá. Aparece esta nota antiga: .... Aparecida às margens da Dutra é a amante amanhecida com mau hálito e cheiros elaborados no laboratório da noite, devassada pelas curvas como virgem violada que escolheu sua noite de orgia, descolorida virgem de massa mascada entre as alegorias esquecidas do carnaval às margens da ferrovia.

 

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