desenho de Lu Guidorzi
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berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Luz de agosto

18/08/01

 

"aspas"

"Já chega de seguir as nossas venetas! Já é tempo de sermos sensatos. Tudo isto, toda esta vida aqui no estrangeiro, e toda esta Europa tão gabada, tudo, mas tudo, não passa duma fantasia! E todos nós, no estrangeiro, somos fantasia e nada mais!..."

DOSTOIEVSKI, pela personagem Ievgeni Pavlovitch, no último parágrafo de O Idiota, romance publicado no "O Mensageiro Russo", a medida que ia sendo escrito, entre 1867 e 69 e, depois, como livro, em 1874. Trad. José Geraldo Vieira para a Livraria José Olympio Ed. Rio de Janeiro, 1955.

Nunca me ocorreu perguntar por que a luz de agosto não é tão linda como a de maio, mês que a todos encanta pela luminosidade, pelas cores, pela luz que chega mais oblíqua, mais tênue, com menos energia, diriam os mais chegados à ciência, mais européia, diriam os mais poéticos ou arrogantes e haveria, ainda, pernósticos para mencionar a temperatura de cor mais baixa...

Em que difere a luz de fins de julho, agosto da de fins de abril, maio? A posição da Terra é simétrica, em relação ao Sol, ao ponto mais distante, do dia 21 de junho. Este ponto - ou dia - seria o espelho ou eixo da simetria. Dez dia antes ou dez dias depois do dia 21 e o sol iluminaria tudo do mesmo jeito, na mesma hora, com sombras idênticas, estaria na mesma posição aparente no céu, e iria nascer e se pôr nos mesmos pontos do horizonte.

Por que, então, a luz de agosto não é tão charmosa como a de maio? Estamos no inverno e, em maio, seria outono. Surgem imagens de outras latitudes com outonos dourados por folhas moribundas e invernos brancos da neve que por aqui não cai. Não cai neve, nem chuva, nem garoa, nem nada. Só pó. Cai e volta a subir, varrido, centrifugado por milhões de pneus e sabe-se lá que outras máquinas de empoar e empoeirar.

Nosso inverno é mais longo do que o verão e é seco, irrespirável, cheio das tais inversões térmicas e de desculpas para poluir, medir e justificar poluições. Lá, no verão dessa preguiça da Terra, o presidente Bucho arrota que polui e polui mesmo!

Enfim encontro uma explicação: a luz de maio é mais linda: apenas por que maio chega e encontra o céu lavado, pelas águas que nos acostumamos a dizer de março...

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