crônica do dia

 

Manhã branca

25/10/00

 

O título evoca, também, o pequeno 'romance sentimental' de Dostoievsqui, 'As Noites Brancas', que começa assim: "era uma noite maravilhosa, uma dessas noites que só podem existir quando somos jovens, amigo leitor."

Li o romance quando era jovem - ah, dizemos isto como se fosse possível reviver nas palavras algo da juventude! - li, dizia, depois de assistir ao filme russo homônimo, mas a evocação se deve apenas à cor. Ao contrário das noites de S.Petersburgo, todavia, a manhã caminha para o cinzento.

Perdemos envelopes e selos. Perdemos o carimbo e, eventualmente, a simpatia do moço dos correios. A rigor, perdemos até os correios.

Envelopes podiam ser uma segunda mensagem. Ocorre-me um, vermelho intenso, impressionante, que talvez nunca tenha sido usado... outros, eram de papel pintado à mão. Depois, veio o tempo das aquarelas no verso dos envelopes, por cima do 'remetente', a criar problemas com as convenções de endereçamento...

Selos eram curtição à parte, capazes de completar a mensagem visual do envelope.

selos de vários países

Para além do visual, vinha o conteúdo de cheiros, sabores e até mais. Com o tempo as cartas foram fazendo seu strip-tease, despindo-se dos rebuscamentos, dos requintes, do supérfluo, do charme, do encantamento...

Primeiro foi o lacre e o sinete. Depois, pétalas, marcas de batom, perfumes... Foram-se penas, canetas e tintas exóticas e, depois, alucinógenos disfarçados em sinais de ortografia ou notas de dólar, embrulhadas em papel carbono para não aparecer nos raios-x e metida entre muitas folhas de papel macio. Agora, é a vez dos envelopes, selos, papeis especiais, etc.

Em troca, a mensagem eletrônica é objetiva, fácil, informal e funciona. Funciona, sobretudo - funciona! É o melhor do computador para a maioria das pessoas. Escreve-se pr'as pessoas. Antes, ficava para amanhã ou, dava uma preguiça danada de ir comprar selos...

 

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