auto-retrato [1987] Crônica do dia

Maravilhosa

10/04/06

Fez-se o outono, pelo menos aqui, no mínimo, em mim. O frio calou o sorriso com que a brisa esboçava leve aceno na folhagem. Folhas e flores no chão alimentam estações por vir. Agasalham minhocas, vermes, miríades de criaturas de um mundo escuro, que fogem à primeira luz.

Haverá ainda um ou outro dia morno, algum, raro, mais quente, no mais, diante da imensidão do vazio teremos estrelas e as espetaculares e frias noites juninas. Cruzeiro alto, com ele, Centauro e a Próxima, tão próxima que, em quatro anos e pouco sua luz nos chega. Hoje, vemos luzes do reveillon de 2002! Ela pode nem existir mais...

O friozinho dos amanheceres nem chega a incomodar, o pior é a mudança de humor: fico chato, implicante, enfezado, rabugento - é isto, rabugento, o adjetivo cai bem a um velho mal-humorado por ação nefasta do frio.

As casas de marimbondos, daqueles que fabricarem ninhos de papel, feitos a partir de fibra vegetal mastigada com saliva, somem no inverno. Não restará nenhuma. Em seus ninhos, verdadeiros berçários, já não se vêem larvas nem pupas, não há mais trabalho como antes. Tais vespeiros são índice certeiro de que se faz outono. Já se pode sentir o olhar do inverno no horizonte.

A segunda-feira veio de cara lavada, sem graça, de ressaca. Trouxe céu azul pálido, hálito levíssimo e gelado e sol pálido. Parecia lembrar os 75 anos da morte do poeta do Profeta, Gibran Khalil Gibran. Sob luz impecável, pares de pequenas borboletas borboleteavam, para que as próximas estações também estejam cheias de pequenas borboletas.

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A vida não pode titubear. Sucumbiria se, bêbada, adormecesse na sarjeta do tempo. A vida é essa potência de energia contínua em busca de vida, a alimentar vida, a morrer para se transformar em vida. A vida se refaz a todo instante e neste refazer-se gera sua própria energia e se torna maravilhosa.

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