Crônica do dia

Mega

01/07/05

Pelo rádio um matemático assessora a reportagem e calcula que o próximo prêmio da Mega Sena - cujo valor deve chegar a 43 milhões de reais, pouco mais de 18 milhões de dólares - poderia render quase 300 mil reais por mês na "caderneta de poupança"; mais de 400 mil, em qualquer aplicaçãozinha vagabunda dos bancos corriqueiros e, disse o assessor, chegar a meio milhão com uma boa conversa com a pessoa certa do banco. Isso mesmo: seis milhões por ano só de juros, fora os juros sobre esses seis milhões e coisa e tal, os tais juros sobre juros.

Os ouvintes, imaginei, deviam estar babando com os sonhos, malgrado as probabilidades pequeníssimas de acertar o resultado. A repórter desejou "boa sorte, caso o senhor tenha jogado os mesmos números que eu", o entrevistado declarou que não diria sua aposta pois pretendia ganhar sozinho. A repórter não destacou que esses juros seriam PAGOS por um banco e tampouco o entrevistado lembrou que banco empresta dinheiro com juros MAIORES, quase sempre, muito maiores.

Quando saírem os balanços dos bancos a mostrar crescimento pornográfico de lucros, é bem possível que aquela repórter convide aquele matemático para comentar os números e, juntos, venham a criticar ganhos abusivos etc. Porém, deixaram-se levar pelo sonho da opulência, luxo e extravagância que 18 milhões de dólares permitem - o assessor iria pescar no Pantanal, para disfarçar, a repórter ficou muito perturbada e não conseguiu ou não quis confessar seus desejos mais imediatos. Ninguém calculou quanto o banco poderia GANHAR com o prêmio de alguém.

Nós, com certeza, não estamos acostumados com muito dinheiro. A manchete do New York Times, de ontem, diz que O Bank of America comprará o MBNA - líder em cartões de crédito e débito - por 35 bilhões de dólares. Dá quase duas mil dessas Mega Senas juntas.

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