desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Na contramão

29/01/18

Cismei não serem os bondes de minha juventude iguais aos da de Luis Fernando Verissimo, a partir da descrição feita pelo grande escritor, do jeito certo de se pegar bonde andando.

Depreendi não ser o dele um bonde com o lado direito totalmente aberto, com bancos terminando rente ao primeiro estribo a correr ao longo daquele lado, de cabo a rabo, para permitir o acesso e a saída dos "ilustres passageiros", como queria o anúncio do Rhum Creosotado. Um estribo ao longo de todo o bonde facilitaria subir no bonde em movimento.


imagem da internet


Dos bondes do Rio de Janeiro, tenho viva lembrança do modo como os cobradores, chamados de trocadores, manipulavam as cédulas ao mesmo tempo que percorriam toda a extensão do bonde pelos estribos, muitas vezes, abarrotados de gente: dobravam cada nota de dinheiro ao comprido e as mantinham, assim dobradas, presas em feixe, pelo dedo médio, podendo puxar qualquer uma para fazer o troco.

Lembro, igualmente, do motorneiro, nome dado aos condutores do veículo, de pé a viagem inteira diante de uma alavanca a correr em um setor circular com uma escala graduada de um até oito, com um espaço maior entre o quatro e o cinco onde se lia "não parar aqui". Ao lado da coluna onde ficava a tal alavanca e outra, dos freios, um pedal liberava breu sobre os trilhos, para aumentar a aderência quando as rodas patinhavam e outro, acionava uma campainha, a buzina do bonde.

Escolher o caminho, quando havia opção, dependia de uma longa alavanca terminada em alça e pendurada na frente do bonde, por fora. Com o bonde parado antes do desvio, com ela se moviam os trilhos para optar. Numa cena inesquecível, do final da era dos bondes, o trocador caminhava na frente do bonde, batendo a alavanca no asfalto, para abrir caminho entre os carros na hora do rush, pois o bonde trafegava na contramão!




Trecho de Luis Fernando Verissimo: "Descer do bonde em movimento era uma das obrigações da juventude, quase uma prova de macheza. Mas o desafio maior era subir no bonde em movimento. Corria-se de costas ao lado do bonde, agarrava-se com uma mão a barra vertical da porta, pulava-se girando o corpo no ar e caía-se com um pé no estribo, virado para a frente. Havia o perigo de cair embaixo do bonde, mas quem diz que na província não havia aventura?"

original (em nova aba)

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Mon, 29 Jan 2018 10:41:23 -0200

"Na vida tudo é passageiro, menos o condutor e o motorneiro..." Provérbio Carioca.

Adorei a cronica. Viajei na cozinha...

Grande Abraço

Ebert

Obrigado.

Boa lembrança a do provérbio carioca!

E tem mais... quem sabe teremos outra vez os bondes como tema...


Mon, 29 Jan 2018 11:15:32 -0200

M A R A V I L H O S A ! ! ! !
Perfeita, impecável!!!!
Clode, como é que você sabe tudo isso?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!? Alavancas, breu,,. como se lembra das notas ao comprido no dedo médio (ao ler, revi a cena).
Uma beleza começar desta forma a semana, iluminou a segunda-feira esquisita e cinzenta do verão paulista.
beijos,
Mima

Que bom que você gostou!
Você, aquela a provocar toda rememoração.
Obrigado duas vezes.
Aqui o tempo também está fechado e abafado. Muito quente!

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