desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Na fumaça do tempo

07/06/16

Às vezes penso em anotar memórias súbitas, desinteressantes e desprovidas de enredo apenas para adiar sua dissolução final na fumaça dos tempos. Pegue-se qualquer famoso de épocas passadas, muito bem registrado na História e me digam: com que ocupava efetivamente seu pensar? Quais eventos de sua vida de fato relevava? Quais sentimentos e lembranças levou para o túmulo como últimos segredos? E a lista poderia se alongar indefinidamente: tudo se dissipou no tempo. Assim como o pó de seu corpo se incorporou ao solo, suas emoções, seus pensamentos, seu espírito sumiu com exceção dos traços deixados em eventuais obras.

Invariavelmente se segue a pergunta: para quê? E a intenção de anotar, antes da memória, se perde no nada. Assoma-me em seguida a síndrome do museu. Guardar e, eventualmente, exibir a faca usada por Maria Antonieta para passar manteiga nos brioches, ou geléia... A pena de albatroz usada por Pero Vaz Caminha para contar das "vergonhas" de nossas índias... O penico de ouro usado por Henrique VIII e outras bilhões de quinquilharias carcomidas pelo tempo, eventualmente empoeiradas e, quiçá convivendo com fungos e bactérias insuspeitados. E logo aquele "para quê?" se torna um veemente "xô!".

Tal ímpeto de colecionador adviria de alguma angústia insabida ante a certeza da morte, da consciência da própria efemeridade, de um sonho secreto de vida eterna (aqui, neste vale de lágrimas!) Cada indivíduo descobre com o tempo "a(s) sua(s) coleção(ões). De bibelôs a armas orientais, de livros disso ou daquilo a pares de sapatos, de troféus a pessoas ou bichos, são infinitas as possibilidades de colecionar, de construir aos poucos um museu pessoal.

Graças a assim divagar, esqueci qual memória súbita, desinteressante e desprovida de enredo engendrou estas digressões descabidas. Ainda bem!

Wed, 08 Jun 2016 09:07:35 -0700 (PDT)

adorei!
tao verdade, e a vida se torna cada vez melhor qdo a gente "simplifica", deixando de lado o q nao eh necessario
dificil discernir esse "necessario" rsrsrs

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Agora, uma confissão: menti ao dizer "esqueci qual memória súbita etc...." Ia contar o encontro do Bahiense com papai, quando ele veio convidá-lo para abrirem juntos o curso pré-vestibular...

Sim, o necessário é sempre muito relativo...


Wed, 8 Jun 2016 21:12:45 -0300

impecável...

Essa você acertou no pico certeiro...

      sem assinatura

Obrigado.
   (você ajudou)

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